Refúgio do ruído Curadoria e textos de João Villaverde |
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Rupturas do pensamento
Foram três anos de trabalho. Fico feliz em dividir aqui que um novo livro, que muito me orgulha, está a caminho. A biografia do professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, em forma de depoimentos dele à este que vos fala e a meu amigo José Márcio Rêgo, será lançada no fim deste ano pela Editora 34.
O título será Rupturas do Pensamento. Fiquei feliz ao ver hoje a notícia de publicação do livro na prestigiosa coluna "Painel das Letras", do grande Walter Porto, na Folha.
Entre outubro de 2017 e março deste ano, eu e José Márcio colhemos mais de 40 horas de depoimentos de Bresser-Pereira. Sobre tudo.
Concorde ou não com as opiniões de Bresser, temos um fato inescapável: ele foi testemunha ocular e, em muitas ocasiões, o próprio protagonista, da história brasileira.
O leitor deste Refúgio do Ruído deve saber, mas, ainda assim, conto aqui: Bresser, que completará 86 anos na terça, foi de tudo um pouco. Foi ministro em Brasília três vezes (da Fazenda, no governo José Sarney; da Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia, no governo FHC). Foi presidente de banco (o Banespa) e chefe da Casa Civil do primeiro governo democrático em São Paulo depois da ditadura militar (o de Franco Montoro). Fundou o PSDB, mas deixou o partido. Era chamado de neoliberal pela esquerda, mas em 2018 defendeu Ciro Gomes no primeiro turno e, no segundo, Fernando Haddad. |
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Além da vida pública, mais chamativa, Bresser também foi diretor e depois conselheiro do Grupo Pão de Açúcar por mais de quarenta anos, sendo considerado braço direito do empresário Abílio Diniz. Ademais, Bresser é professor da FGV, em São Paulo, desde 1959. Você não leu errado. A capital brasileira ainda era o Rio de Janeiro. Pois é.
Como acadêmico, Bresser participou de debates fundamentais, como da formulação da teoria da inflação inercial, no começo dos anos 1980. Essa teoria, bancada também por mentes brilhantes como Persio Arida, André Lara Resende, Chico Lopes entre (poucos) outros, foi fundamental para as reflexões que levariam ao Plano Real, a joia intelectual que virou a bem sucedida política pública que fez a inflação brasileira sair de 2.535% (sim, isso mesmo) em 1993, para uma taxa normal, a partir de 94.
Eram outros tempos, realmente. Hoje, 2020, estamos há 18 meses com um ministro da Economia que promete entregar uma reforma administrativa, mas não consegue sequer escrever uma proposta e levar as folhas grampeadas ao Congresso Nacional. Pois anos atrás, Bresser e o time de seu ministério (que incluía, entre outras grandes nomes, a brilhante professora Claudia Costin), não só apresentaram ao Congresso uma proposta de reforma do Estado, mas aprovaram uma emenda constitucional, moderna até hoje.
Bem, como disse, não é preciso concordar com as ideias de Bresser para ler o livro, que a 34 lançará no fim do ano. Mas se você se interessa por história brasileira, pública e privada, suspeito que você se interessará. Contarei mais detalhes oportunamente. |
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FUGA Será que um dia superaremos o horror bolsonarista? Não sei. Quero crer que sim, claro, de outra forma não teria razão para acordar amanhã. Suspeito que a saída está, como sempre está, na cultura. Assistir a live de Gilberto Gil ontem me fez muito bem. Daí fiquei sabendo que neste domingo será a vez de Milton Nascimento. Fui dormir e consegui sonhar. Há quantos dias eu não sonhava.
P.S. Tirei a foto que acompanha a seção Fuga em maio de 2013, durante uma viagem de trabalho ao sertão baiano. Lá na frente está Monte Santo. Saudade de viajar pelo Brasil. |
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Dias atrás, fiquei completamente sem internet em casa. Zero. Isso acabou me empurrando para DVDs antigos e, entre eles, um que há tempos eu pensava em assistir e sempre deixava de lado: Atirem no Pianista!, de Truffaut. Assistir a essa película, de 1960, auge da Nouvelle Vague, foi a melhor decisão que tomei esta semana. Ah! Tem a íntegra no Youtube, clicando aqui. |
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BOAS LEITURAS Poucas vezes um lançamento de não-ficção tem o poder de capturar completamente os pensamentos. Mas em maio peguei para ler um livro que tinha acabado de sair, Falando de Música, do regente Leandro Oliveira, lançado pela editora Todavia.
Trata-se de uma leitura simplesmente fantástica. Em apenas 126 páginas, Leandro passeia pela história da música clássica de forma a desmistifica-la para o leitor deste triste 2020. O autor faz o mais difícil (escrever de forma leve sobre um tema distante do leitor médio) e entrega um grande livro. Seja você iniciado no terreno de Mozart, Strauss, Mahler e Beethoven, seja você um aprendiz. Vai gostar:
"Há questões de comportamento que são também muitíssimo relevantes, pela reincidência e abrangência. Costuma-se dizer que a arte de desagradar a todos é falar a verdade, pois bem, aqui vai: no Brasil, esquecemos como aplaudir. Não me refiro, é claro, à habilidade motora de bater as palmas das mãos uma contra a outra e tirar delas algum som, mas ao fato de termos perdido os aspectos significantes do aplauso. Aqui, aplaudimos a tudo e a todos indiscriminadamente, e de pé. Nas salas de concerto, basta acabar o último compasso de determinada música, qualquer música, e é como se a cadeira fervesse ou o cansaço da musculatura glútea exigisse das pernas que se esticassem."
Impossível não ler o livro de Leandro sem uma boa trilha sonora. Aproveitei e criei uma playlist, que me acompanhou na leitura.
P.S. A foto que acompanha este Boas Leituras eu tirei em fevereiro do ano passado de dentro da Hatchard´s, livraria londrina que está no mesmo endereço no bairro de Green Park desde 1797. Uma joia urbana. |
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PAUSA Este é o país de Gilberto Gil, de Gal Costa, de Fernanda Montenegro, de Zé Celso Martinez, de tantas mulheres e homens geniais. Em tempos bolsonaristas, em que os piores em cada área da atividade humana ganham ministérios, tempos em que boa parte dos brasileiros sente ânsia de vômito quando se informa sobre o que faz o governo federal, precisamos nos lembrar, sempre, que há uma saída. Um país que gerou Dorival Caymmi pode superar os generais. Um país que teve Pixinguinha pode vencer Ricardo Salles. Um país que têm João Bosco pode tudo.
Estou viciado no novo disco de JB, Abricó-de-Macaco. Que trabalho incrível. Ouça você também e sinta uma ponta de esperança. P.S. Tirei a foto que acompanha esse segmento Pausa dentro de um prédio em Paris, numa viagem de trabalho em outubro de 2019. |
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Sobre a newsletter Decidi escrever essa newsletter para compartilhar com amigas e amigos alguns pensamentos e algumas das leituras mais interessantes que venho fazendo. Se você tiver dicas na linha do que encontrou aqui, me mande! Todo dia terminado em sete (07, 17 e 27) mandarei ela para você. P.S. Eu tirei a foto que acompanha esse segmento durante uma viagem de trabalho para Londres em fevereiro de 2019. Estamos dentro do Ship´s Tavern, uma taverna instalada no centro de Londres desde 1549 (você não leu errado; o bar foi inaugurado um século antes de Hobbes escrever O Leviatã e antes, também, da Revolução Gloriosa).
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Obrigado por chegar até aqui. No dia 07 tem mais. |
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