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Análise de ferramentas ilumina transformações da ilha de Creta na Idade do Bronze

Em Raw material choices and technical practices as indices of cultural change, artigo recentemente publicado na revista PLOS ONE, Tristan Carter e Vassilis Kilikoglou discutem como mudanças na sociedade afetam de modo diverso diferentes grupos sociais. Esses pesquisadores investigaram a matéria-prima e as escolhas técnicas de ferramentas confeccionadas pelos cretenses no 2º milênio a.C. Nessa época, a ilha de Creta passou por um período de significativas transformações culturais, tais como a adoção de uma nova língua e um novo sistema econômico, além de grandes mudanças nos costumes funerários. Além disso, lugares importantes da ilha foram destruídos e túmulos de guerreiros apareceram no famoso palácio de Cnossos. Até então, supunha-se que essas transformações eram reflexos de uma invasão da ilha por uma população do continente grego (micênicos). A análise de Carter e Kilikoglou, entretanto, sugere um quadro mais complexo. Ao utilizarem um reator nuclear para determinar a origem das ferramentas, eles descobriram que as matérias-primas empregadas na fabricação desses instrumentos se originaram na ilha de Milos, nas Cíclades. “Nossa análise sugere que a população permaneceu em grande parte local, de descendência minoica. Isso não quer dizer que uma invasão de Creta não tenha ocorrido, mas que a situação política no resto da ilha neste momento era mais complexa do que se acreditava anteriormente, com continuidade demográfica significativa em muitas áreas”, disse Carter em entrevista ao Heritage Daily. As elites locais, de fato, estavam estrategicamente alinhadas com os poderes micênicos, como sugere a adoção de novas práticas mortuárias no continente, mas a maioria das pessoas comuns ainda levava suas vidas da mesma maneira que antes.

Blog reúne material gratuito sobre ensino e aprendizado de História Antiga

O blog Peopling the Past hospeda uma série de vídeos, de podcasts e outros recursos: virtuais e de livre acesso que podem ser úteis tanto para o ensino quanto para o aprendizado da História Antiga. Na aba vídeos, por exemplo, é possível ter acesso a uma apresentação de Amr Shahat sobre evidências ligadas à produção de cerveja no Egito antigo, bem como a uma fala de Jitse H.F. Dijkstra sobre grafites no antigo Mediterrâneo, inclusive sobre o uso religioso de grafites como uma forma de piedade pessoal no Egito antigo. Na seção de podcasts, um dos episódios se destina à fala de Sanchita Balachandran sobre a experiência sensorial de ceramistas e pintores antigos. Outros, ainda, exploram a vida das mulheres na Antiguidade, como o de Caitlin Gillespie sobre Boadicea, uma líder da tribo iceni que encabeçou uma revolta contra os romanos e o de Stephanie Budin, que nos fala sobre a agência de mulheres livres dentro dos limites do patriarcalismo que caracterizava a antiga Mesopotâmia. Em recursos, há listas de indicações de ferramentas de ensino, blogs, podcasts, entre outros links externos.

Grupo de Estudos do GSPPA

Em 18 de agosto de 2022, o grupo de estudos do GSPPA discutiu o capítulo de Claire Taylor, Poverty, debt and dependent labour in the ancient Greek world: thinking through some issues in doing ancient history from below, publicado no livro Ancient History from Below (eds. Cyril Courrier e Julio Cesar Magalhães de Oliveira). No capítulo, a autora reflete sobre o uso do conceito de pobreza no estudo dos grupos subalternos na Grécia Antiga. Em oposição a abordagens discursivas e absolutas, Taylor propõe um uso relacional do conceito, enfatizando as formas particulares das relações de dependência que precarizam grupos sociais em contextos distintos, bem como as experiências desses grupos vulneráveis. Em sua investigação, a autora analisa práticas de empréstimo e dívida realizadas e contraídas pelas elites e, também, pelos seus dependentes, observando a circulação de práticas comuns e com finalidades semelhantes entre eles, mas também suas implicações distintas de acordo com suas condições sociais. Nosso próximo encontro acontecerá em 16 de setembro, iniciando um ciclo de discussões sobre agência escrava. O texto discutido será Approaching Slavery in Ancient Greece: Motivations, Methods and Definitions, de Sara Forsdyke. As inscrições para nossas reuniões ocorrem sempre no início do ano. Para obter informações, entre em contato conosco: subalternos@usp.br

Eventos

XXXII Ciclo de Debates em História Antiga

De 20 a 22 de setembro, acontecerá o XXXII Ciclo de Debates em História Antiga, evento virtual organizado pelo Laboratório de História Antiga (LHIA) da UFRJ. O ciclo tem como tema as relações entre Cidadanias & Liberdades no mundo antigo e visa promover discussões sobre suas fragilidades, mutações, limites, escopos e paradoxos. Os debates serão transmitidos pelo canal do laboratório no YouTube, das 18h às 21h30. A seguir, confira alguma das comunicações que tratam da história dos grupos subalternos e das práticas populares na Antiguidade. No primeiro dia de evento, Gilberto da Silva Francisco (Universidade Federal de São Paulo) fala sobre A Desafricanização de Andrômeda: o mito em contexto grego, romano e sua recepção. No dia 21 de setembro, a programação conta com a apresentação Cidadania, Liberdade e Integração Social dos Libertos no Mundo Romano, de Fábio Joly (Universidade Federal de Ouro Preto). Em 22 de setembro, terceiro e último dia de evento, acontecem as apresentações La libertad de los ciudadanos pobres en la democracia ateniense: el dêmos como clase y como sujeito político, de Julián Gallego (Universidade de Buenos Aires) e O Espaço Doméstico Egípcio e o Gênero: a constituição da vida comunitária em Armana, de Thaís Rocha (Universidade de São Paulo). Para mais informações, acesse as redes sociais do LHIA.

 

Dicas de leitura

O Asno de Ouro, de Apuleio (Editora 34, 2019, 480 páginas), único romance latino da Antiguidade a sobreviver na íntegra até hoje, em edição bilíngue, com o texto original latino e a tradução para o português de Ruth Guimarães, o livro conta ainda com a excelente introdução de Adriane da Silva.

A People's History of Classics, de Edith Hall e Henry Stead (Routledge, 2020, 670 páginas), explora a influência do passado clássico na vida das pessoas da classe trabalhadora na Grã-Bretanha e na Irlanda do final do século XVII ao início do século XX, demonstrando que a educação clássica não precisa ser elitista ou reacionária.

Para mais dicas de leitura, acesse nosso blog neste link.

O Boletim Subalterno é uma newsletter criada e editada pelo grupo de pesquisa Subalternos e Populares na Antiguidade. Conheça nosso blog em www.subalternosblog.com e acompanhe nossas redes sociais:

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Boletim Subalterno; terça-feira, 6 de setembro de 2022; ano 1; nº 5; escrito por Giovan do Nascimento, Julio Cesar Magalhães de Oliveira e Marcio Monteneri.

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