Minibio por ela mesma
Katia Horn nasceu em Luzerna, Santa Catarina, em 1965. Formou-se em Educação Artística em 1988, na Universidade Unigran de Dourados – MS. Mudou-se para Curitiba no início dos anos 90. Aqui, vem atuando como:
+ Artista plástica – pesquisadora de técnicas múltiplas, desenho, pintura, gravura, colagem, arte digital participando de salões de arte, exposições;
+ Artista gráfica – ilustradora, tem trabalhos publicados em revistas, livros, jornais, materiais promocionais, apostilas escolares, edições virtuais.
+ Arte-educadora – inúmeras oficinas e cursos livres por meio da Secretaria de Cultura, Fundação Cultural, UFPR, entidades e produtoras de Curitiba e outras cidades do Brasil.
+ No teatro e audiovisual atua como cenógrafa, figurinista, bonequeira, aderecista, atriz, cantora, citando o espetáculo infantil Villa das Crianças, da Parabolé, em que atuou, fez cenário e figurinos. E em 2014, estreia o monólogo “Canto 13 da Iliada”, na Cia Iliadahomero, direção de Octavio Camargo. Performer, atuou por muitos anos no grupo “Povo do Botão”, com Helio Leites, criando a Ex-cola de samba unidos do Botão, evento anual desde 1991. Faz a personagem Marisa Horn, no filme Alice Junior, lançado em 2020. De 2000 a 2010 dedicou-se com os pais e irmãos ao grupo musical Familia Horn, fazendo muitos shows e apresentações pelo sul do país.
KAREN Como é ser de esquerda em Curitiba?
KATIA É frustrante, é triste sentir-se minoria neste momento em que vivemos às voltas com este governo tão torpe. Fui me informar no google agora e vi que - segundo a Gazeta do Povo e o Paraná Pesquisas - Bolsonaro tem no estado 47 por cento das intenções de votos, contra 30 por cento de Lula, que foi basicamente o percentual do atual presidente nas eleições do primeiro turno em 2018. Apesar do desastroso governo, é desolador saber que grande parte da população continua apoiando esse projeto de destruição nacional. Enquanto artista posicionada neste espectro político, tenho a sorte de me relacionar com o povo dos 30 por cento, cidadãos que se posicionam e se manifestam contra a barbárie. Temos assistido, não calados, à destruição e desmantelamento dos órgãos estatais de cultura, arte e educação. O que no nosso estado é ainda mais escandaloso e gritante. Não tá fácil.
KAREN Arte tem lado?
KATIA A arte é o reflexo do que o artista vê, ouve, sente. Nesse caso, a arte tem o lado do artista. No geral, boa parte da classe é questionadora e crítica, e nesse sentido não há como aceitar a desigualdade, o preconceito, a crueldade do estado, as mentiras contadas para justificar o injustificável. Por isso, os artistas têm sido atacados, criminalizados, demonizados por esta direita que sequestrou o país para que nossas denúncias, nossos discursos sejam desqualificados, e a arte enquanto instrumento conscientização política e social seja desacreditada pelos eleitores subjugados pela indústria das fake news.
KAREN O fato de ser esquerda fica refletido diretamente na sua arte?
KATIA Não necessariamente. Nem sempre isso fica explícito no que eu produzo, apesar de ser latente. A arte pra mim é uma manifestação muito espiritual, e muitas vezes quando estou produzindo, eu me desgarro da realidade crua, redimensiono o mundo, abro janelas dimensionais. Vou pra outros lugares, onde não é necessário ser de esquerda, fazer abaixo-assinado, carregar faixas pelas ruas e gritar por justiça, porque neste mundo utópico, somos partes do todo, colaborando uns com os outros para a evolução da humanidade.
KAREN Você desenvolve estratégias pra conseguir se expressar na atual conjuntura?
KATIA Tenho usado as redes, principalmente durante a pandemia, em que ficamos isolados. No inicio de 2020, por exemplo, criamos a página @maisfadinhas, com textos da Leo Glück ilustrados por mim e produção da Pomeiro. Foi um jeito de fazer a produção chegar nas pessoas, o que acontece na medida em que os algoritmos permitem. E eles nem sempre ajudam. É uma luta constante, produzir, criar diálogos, ter respostas, sobreviver da nossa arte.
KAREN Tiveram que trocar o nome e tirar O Fadinhas Fodidas?
KATIA Sim. Inscrevemos elas num projeto da Aldir Blanc e quando tentamos turbinar as publicações o Insta não aceitava por causa do Fudidas.
KAREN Trabalhar com as mãos (fazer arte, artesanato) nesse mundo tão industrializado é um desafio? Pergunto porque também estou nessa.
KATIA Não chega a ser um desafio porque eu sou de uma geração analógica, aprendi a fazer coisas com as mãos desde a minha mais tenra infância. Desafio pra mim é fazer arte digital, lidar com programas de computador, usar os “aplicativo tudo”, transitar com sucesso nas redes.... Mas tenho dado conta, na medida do possível.
KAREN Sim... Pra tudo tem aplicativo, né? E eles vão se entulhando no celular e a frequência com a gente precisa trocar o aparelho diminui cada vez mais...
Sobre a sua tenra infância... Lembra de alguma coisa que você fazia com as mãos?
KATIA Eu sempre gostei de desenhar, pintar, recortar.... Estava sempre criando coisas. Minha avó e minha mãe costuravam, ensinavam a gente a bordar, pregar botão, fazíamos roupas para as bonecas, fazíamos as próprias bonecas. Meu pai fazia de tudo, construía casinha pra gente brincar, fazia brinquedos, reformava as coisas da casa, então o estímulo do fazer foi muito grande na família.
KAREN Sobre os trabalhos artesanais ainda... Eles estão sofrendo um processo de desvalorização?
KATIA É relativo isso. Apesar de você conseguir comprar as coisas mais absurdas produzidas em série na China, de ter programas e máquinas que imprimem esculturas e até mesmo casas, acho que o espaço da criatividade está muito ampliado, e o fazer manual ainda tem espaço em quem consome com sensibilidade. Acho que existe espaço pra tudo, se a gente souber como ocupar.
KAREN Você ainda tem alguma coisa que seu pai, sua avó, sua mãe faziam?
KATIA Tenho algumas coisas deles, minha mãe ainda borda bastante. Mas o principal, de tudo o que eles fizeram eu guardo dentro de mim, eu expresso na minha arte.