Como ser de esquerda e sobreviver no sul maravilha


SÉRIE DE ENTREVISTAS 2 

 

Minibio por ela mesma

 

Sou Neta de Maria Christiana de Mello, Ulisses Passos Mello, Mãe de João Victor, Feminista Negra, antirracista, defensora dos Direitos Humanos, Psicologa, Corretora de Imóveis, Produtora Cultural, e como a grande maioria das Mulheres Negras, já trabalhei de empregada doméstica e diarista, limpando casa de mulheres brancas. 

 

KAREN Como é ser de esquerda no sul maravilha?

TELMA  Primeiro o Sul não é não é uma maravilha. Curitiba  é a primeira cidade do sul do Brasil com o maior numero de Negros. Curitiba é facista, e nos mostra seu racismo mesmo quando estou dentro de minha casa e, racista bate e pede para falar com a dona da casa... Sobreviver em Curitiba cidade do sul, e ser de esquerda, é mais fácil que ser mulher preta. Os embates são ideológicos, as pessoas toleram mais meus posicionamentos do que o fato de se ser preta. Sobrevivo com muita luta, pois só a luta muda a vida. 

 

 

  

KAREN  Você desenvolveu algumas estratégias?

 

TELMA  Sim, para sobreviver é preciso criar estratégias. Resistir, resistir até a vitória.

 

KAREN Desde quando você se lembra de ser ligada às causas sociais?

TELMA  Já nasci berrando, protestando. Minha mãe mulher negra  ao me parir sofre violência obstétrica. Minha luta antirracista e defensora dos Direitos Humanos se intensificam a partir de 2015, quando minha irmã é violentamente assassinada em frente ao Fórum de Almirante Tamandaré, crime captado pelas câmeras de segurança. Seguranças do Fórum viram presenciaram o crime, tem o numero da placa do carro que passou por cima da cabeça de minha irmã e o crime não foi investigado, os culpados estão impunes. 

 

KAREN  Você nasceu em Curitiba? Você  vê possibilidade de mudança dessa realidade?

TELMA Nasci em Curitiba. O Racismo é estrutural, institucional e cultural. Lutamos para acabar com o Racismo, como lutou minha ancestralidade, e sei que também não verei o fim do Racismo.

 

KAREN  Como viver sabendo que não verá o fim do racismo?

TELMA  Viver lutando. Foi a resistência de outras pessoas Negras que me trouxeram até aqui. É preciso autocuidado e bem viver. Quem fica tem obrigação de lutar. E vocês pessoas brancas, como vivem sabendo que o sistema Racista que inventaram não vai acabar?

 

KAREN  Olha... Eu não me sinto branca. Sou metade indiana. E me sinto mal demais com esse sistema. Luto pra que isso mude com as armas que tenho. O blog é uma delas. Voltando  a fazer perguntas...Você  parece ser de poucas palavras...

TELMA  Karen eu não sou de poucas palavras. Eu gosto mesmo é de falar, em vez de escrever na entrevista. Como diz meu filho eu gosto do blá, blá, blá...

 

KAREN    Então fala... Pode gravar... Não tem problema...

TELMA   Mas eu sou mesmo uma pessoa objetiva, direta. Como dizem: sou curta e cirúrgica.

 

KAREN  Por que você escreve Racismo, assim com r maiúsculo?

TELMA    Escrever racismo com R minúsculo é tirar a importância que ele tem. O Racismo existe e é preciso que ele seja lembrado. Ele tem visibilidade, é violento e mata.

 

KAREN   Essa pergunta é porque  faço artesanato com literatura e você está perto da arte por ser produtora cultural. No mundo industrializado a arte, o artesanato  perdem cada vez mais espaço? 

 

TELMA   Eu entendo que as possibilidades da vida industrializada são exatamente essas. Fazer com que as coisas valiosas e que são feitas com a mão, por exemplo,  deixem de ser valorizadas, de ser feitas, mas aí também é preciso avaliar uma questão, né? Artesanato o próprio nome diz é algo que não é feito em série, na fábrica. Entre pessoas mais evoluídas, essa questão do artesanato tem muito valor.  Eu mesma valorizo o artesanato pela questão manual, pelo fazer artístico. 

 

KAREN  Tem algo que você gostaria de falar e que eu não perguntei?

TELMA  Esqueci de contar, não lembro... O movimenta feminista negra que é um coletivo da qual eu faço parte, nós estamos organizando o Julho das Pretas no Mupa. Teremos atividades lá no Museu Paranaense dias 17, 24 e 25 de julho. 

 

KAREN  Pensei em mais uma pergunta aqui... Como não ser de esquerda sofrendo racismo? 

TELMA  Eu não sou de esquerda porque sofro Racismo. Eu sou de esquerda porque tenho uma ideologia. Minha ideologia é o socialismo. O Racismo me fez me transformar em muitas coisas. Porque eu sofro racismo de gente de esquerda, de direita, de gente do centro. Como já disse Lélia Gonzalez: entre a direita e a esquerda, nós continuamos negros. Mas, todas essas opressões que nós vivemos, o racismo, o machismo a escravização são a dívida do capitalismo, né? Por uma terra sem amos, isso é socialismo, né?  Sem senhores, sem senhoras e sem amos. (cantando)

 

KAREN  Você gosta de cantar?

TELMA  Eu canto Karen. Canto o dia inteiro. O rádio tá sempre ligado. Eu acordo e já ligo o rádio. Mas, eu estou resfriada... Por isso minha voz está assim... Mas, eu não sou cantora, não. Sou produtora cultural. 

Esse  é o meu mais recente trabalho: Igreja Preta, do Mano Cappu.

 

A Telma falou que o nome do clipe é  Igreja Preta, mas o nome é Igreja Branca. A troca em si já diz muito. Fala de uma igreja que poderia ser mais preta, menos voltada às elites brancas. Não que o nome do clipe o torne menos crítico à situação do racismo. Muito pelo contrário. Assiste pra ver. A Telma fala também que atuou como produtora cultural, mas não é só isso, não. Dá uma olhada em que faz o papel de Deusa...

Feira do Largo da Ordem anos 80.

 

Memorial da América Latina.

Marcha das mulheres negras, Favela do Parolin.

Em casa.

Vigília Lula livre.

Na exposição da artista Eunice Terres.

Telma Canta by CAIXA CAIXOTE CAIXÃO

Esse áudio faz parte da série COMO SOBREVIVER SENDO DE ESQUERDA NO SUL MARAVINHA. Publicada no blog CAIXA CAIXOTE CAIXÃO no capítulo 2 sobre Telma Mello.

Viu... Repara na desformatação (que surge antes) e pode surgir depois da publicação. Problemas sérios no e-mail marketing do wix. Um trabalho que você demora 5 minutos pula para meia hora, uma hora ou mais... E não resolve. 

Karen Monteiro escreve no blog CAIXA, CAIXOTE, CAIXÃO. Na pandemia, fez alguns escritos poéticos também inspirada no crochê com sobras. Qual o valor do resto? Chamou a ação de CAIXOLÁ LÁ LINHA: artesanato, poesia, aproveitamento de lã e de linha, solidariedade e tentativa de transformar num meio de  módica sobrevivência. 

 
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