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  • Juliana Pina

Crescer é sobre voltar a brincar

Em algum dia pela manhã no começo desse mês, ao abrir a janela, me deparei com uma mensagem pixada num muro do outro lado da rua: "Nina, parabéns! ❤". Por um instante, tentei lembrar se morava alguma Nina no meu prédio, mas não que eu saiba. No dia seguinte, pensei que poderia ser alguém que pega esse mesmo caminho todos os dias. Mais tarde, tentei imaginar o sentimento de quem pixou a mensagem esperando que a tal da Nina fosse ver. Imaginei também que poderia ser um parabéns meio irônico, como se a moça tivesse feito alguma besteira... mas o coraçãozinho no final me fez continuar acreditando que deveria ser um recado amoroso, rs. Devaneei tanto sobre essa mensagem no muro em branco, que agora todo dia que acordo e abro a janela, me sinto meio Nina. Me pergunto como a Nina verdadeira tá se sentindo recebendo parabéns todo dia... Pensamentos quarentênicos!

 

Esse mês assisti um dos filmes mais lindos que já vi na vida: Território do Brincar. Quase uma hora inteira de crianças brincando, em lugares diferentes do Brasil. Não é um documentário com entrevistas e no formato clássico que a gente conhece... na verdade, nem aparecem adultos neste filme. As crianças são as grandes estrelas e o tempo todo você consegue adentrar milhares de universos fantásticos através das brincadeiras, das conversas, da fotografia primorosa e da trilha sonora incrível produzida por um grupo que estou apaixonada desde então. Sabe aquelas cenas que aquecem o coração e fazem lembrar de como é bom estar vivo? Eu dei risada, me emocionei, senti aflição e me teletransportei para vários lugares da minha infância. Acabei pesquisando mais e descobri que o filme é apenas uma das realizações desse projeto maravilhoso que percorre o Brasil, proporcionando um trabalho de escuta, intercâmbio de saberes, registro e difusão da cultura infantil. Algumas coisas até agora estão reverberando em mim e tiveram muita importância para o meu retorno mais brincante ao trabalho este mês. O filme está disponível na Amazon e também neste site gratuito.

Também foi bom lembrar que crianças crescem, através do trabalho desta fotógrafa que registrou 20 anos das vidas de duas primas argentinas. Interessante que, geralmente, quando vemos fotos de pessoas retratando passagens de tempo, esquecemos que quem está por trás da câmera também envelhece, amadurece e reflete isso no seu trabalho.


Nessa mesma onda temática, assisti também um ótimo filme na Netflix, The Forty Year Old Version, que conta a história da própria autora e atriz protagonista, que decidiu ser rapper aos 40 anos. A estética do filme quase 100% em preto e branco, com quebras de 4ª parede e personagens icônicos me lembrou bastante Spike Lee. Me interessa muito esses dois pólos, infância e velhice, juventude e amadurecimento. Talvez porque meu trabalho bebe muito do universo infantil em sua estética, cores e dinâmicas de jogos entre os elementos. Talvez porque eu fui uma criança velha e tenho certeza que serei uma velhinha bem criança (Vovó Juju mandou lembranças!), rs. Por enquanto, me satisfaço em ser uma adulta que brinca o máximo que pode, principalmente profissionalmente. Talvez crescer seja sobre voltar a brincar... era isso o tempo todo!

 

Outro dia comentei sobre essa sensação estranha de estar cansada de conviver dentro da minha própria cabeça e da exaustão do isolamento social. Acabei achando um artigo que saiu no New York Times, tentando nomear essa coisa estranha que estamos quase todos sentindo, de acordo com estudos de psicologia e comportamento. Está em inglês, mas o google tradutor consegue fazer um bom trabalho. Deixo aqui um trecho: "O enfraquecimento não está apenas em nossas cabeças - está em nossas circunstâncias. Você não pode curar uma cultura doente com curativos pessoais. Ainda vivemos em um mundo que normaliza os desafios da saúde física, mas estigmatiza os desafios da saúde mental. Enquanto caminhamos para uma nova realidade pós-pandemia, é hora de repensar nossa compreensão da saúde mental e do bem-estar." Ainda sobre isso, pude ouvir uma ótima conversa entre as meninas do podcast Mamilos e os convidados Viviane Mosé e Lucas Liedker. O tema do episódio: Quem cuida de mim?

"Não esqueça de brincar"

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