PS: Tem algumas pessoas me perguntando sobre como foi o Lab Heal From School e sobre como vem sendo a viagem na Europa. Vou compartilhar sobre isso na newsletter de Agosto, em breve! Nessa de hoje, decidi colocar algumas coisas que já estavam escritas de Julho, mas que ainda não tinha publicado. Boa leitura e navegação!
Quantas vezes você já deixou de fazer algo hoje, aqui e agora, porque tinha que conseguir o amanhã? Ou então quantas vivências já deixou de ter por algo do passado que lhe impediu de viver uma experiência agora?
Você e eu carregamos um monte de histórias, regras, ideias concebidas de anos atrás, ás vezes até mesmo de vidas atrás, que nem nos damos o trabalho de ir até lá rechecar se elas fazem sentido ou não, continuamos as carregando na bagagem. Fica como um monte de livros em uma biblioteca antiga, apenas acumulando poeira e teias de aranha.
O que venho experenciando nos últimos tempos é fazer visitas periódicas nessa gigantesca biblioteca. Vezes doando um livro, vezes lendo e recolocando ele na prateleira, vezes queimando, vezes rescrevendo.
Um dos livros que peguei em julho foi o livro sobre as histórias que carrego sobre o tempo. O título dele era: 'Vendendo o hoje para ter um amanhã'.
Passando as páginas dele percebi o quanto me relaciono com o tempo em escassez. 'Não vou ter tempo pra isso', 'preciso fazer dinheiro', 'não posso descansar', 'tenho que terminar logo' fazendo listas e listas de deveres que colocam minha alma em penúria.
Esse livro caiu da prateleira depois de experimentar durante 3 'dias de semana', fazer coisas que costumava fazer só no 'fim de semana' como: ir na praia, me divertir, ouvir música, escrever poesia, dormir a tarde. Consegui me nutrir trabalhando e essa experiência foi algo totalmente novo pra mim. Depois desses 3 dias me peguei em um movimento de retornar automaticamente ao modelo de separar os dias de diversão e os dias de trabalho. Poucos dias em abundância e depois penúria.
Percebi atuando em mim esse constructo da cultura moderna de: trabalho é trabalho e diversão é diversão. Essa lógica de se vender 5 dias pela espera da recompensa dos 2 dias de descanso. De se vender 11 meses na expectativa do tão esperado mês de férias.
No ônibus, indo de Madrid a Abrantes, Israel me mostrou uma música do Fábio Brazza, que dizia que o amanhã é o medo de o hoje não valer a pena. Essa frase me cortou, porque quando estava fazendo isso de vender o hoje, quando estava criando essa relação com o tempo, o que realmente estava a funcionar por trás era o motor do medo inconsciente. Medo de não valer a pena, medo de não ter suficiente, medo de não ser suficiente, medo de apenas sobreviver.
Estamos acostumados a colocar nossa alma em poucos dias de abundância e depois pura penúria. O ponto é que o contrário da escassez não é abundância, é criação. Decidi, então reescrever esse livro, cultivar uma nova relação com o tempo. Decidi que não vendo mais o meu hoje. Eu não sou um recurso, assim como a natureza não é um recurso. Minha mente colonizada luta para colocar tudo como um recurso, mas meu ser reconhece que somos células em ação de algo maior do que nosso umbigo. Eu sou criação.
O novo título desse livro foi reescrito para 'Crio o hoje como um presente, e o amanhã é apenas uma porta'.