O Sinai Encontrado
Para longe
uma estepe e vento miúdo, está presente a voz de Deus
urro que sacode o terreno.
O feno medra batido pela água
num campo fertilizado por falas furtivas, quase monólogos
saem os dias do baço caldo da placenta.
Vem do piano uma nota curvando-se para ti em glória
cheio o santuário em carne e lascas
tripas nos galhos das cabras
floridas as pastagens.
Subimos um carreiro de vozes
no alto do monte estão suavizados os ventos
esperamos que venhas
estende-se o inferno na planície.
Limpámos insígnias, formámos batalhões
somos muitos, pomos à terra os nossos corpos
a liberdade vem servida de cadáveres.
Deixámos aberta a retaguarda
hasteámos o cordeiro que nos banha de sebo as testas
entram os nossos cornos no teu imaginário.
Texto: Mário Trigo
Fotografia: Tânia Cadima