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Pandemia e luta de classes no Império Romano do Oriente

Em matéria publicada em 28 de setembro na revista Jacobin, Peter Sarris (Universidade de Cambridge) fala sobre a Praga de Justiniano e seu impacto socioeconômico sobre o Império Romano do Oriente. A peste bubônica do século VI d.C., descrita em detalhes em vários relatos de testemunhas oculares, bem como em textos legais da época, implicou em uma perda maciça de vidas e exacerbou conflitos sociais e políticos já existentes. No decorrer da crise, de acordo com Sarris, ao passo que o Estado romano oriental despendia esforços para proteger as classes proprietárias e impor preços e controles salariais, trabalhadores, artesãos e agricultores procuravam tirar proveito da escassez de mão de obra para obter salários altos ou extrair preços mais altos. Os historiadores, nas palavras de Sarris, tendem a minimizar o papel da Peste Justiniana, mas a disseminação catastrófica da peste bubônica e a resposta das pessoas a ela expuseram uma série de desigualdades sociais e econômicas preexistentes dentro do Império Romano do Oriente do século VI d.C. “É hora de historiadores declaradamente progressistas superarem a 'negação da praga' e retornarem ao estudo de classe. A análise baseada em classes ainda tem muito a nos ensinar sobre os mundos 'antigo' e 'medieval', assim como as tensões de classe permanecem no centro de muitas lutas políticas no mundo de hoje”, afirma Sarris. Para saber mais sobre o assunto, leia na íntegra a matéria How a Lethal Pandemic Brought Catastrophe and Class Conflict to the Byzantine Empire, de Peter Sarris. Acesse também os seguintes textos de Julio Cesar Magalhães de Oliveira no blog História Antiga a partir de baixo: Pandemia e desigualdade: o caso da Praga de Justiniano e A Peste Antonina e a Covid-19.

A primeira greve da história?

Nos anos finais do Novo Reinado (1570-1069 a.C.), como sugere um rolo de papiro descoberto em Deir Almedina, o Egito Antigo testemunhou uma série de protestos organizados por trabalhadores especializados na construção de túmulos reais. Os problemas começaram em 1159 a.C., após o atraso de quase um mês no pagamento dos salários desses construtores. Uma medida temporária foi empregada para solucionar o problema, mas o pagamento dos trabalhadores de Deir Almedina atrasou novamente. Dessa vez, eles se recusaram a esperar mais que 18 dias. Em 13 de outubro de 1157 a.C., então, largaram suas ferramentas e marcharam em direção à cidade, dando início ao que estudiosos como Joshua J. Mark chamam de "a primeira greve registrada da história da humanidade". O pagamento atrasado foi finalmente liberado, mas o problema persistiu e novas paralisações foram realizadas. Por fim, algum tipo de resolução parece ter sido alcançada, pois tudo indica que a partir de então os construtores de túmulos passaram a receber em dia. Entretanto, a relação entre os funcionários oficiais e os trabalhadores nunca voltou a ser como antes: agora os últimos entendiam que tinham mais poder do que se pensava anteriormente. Para saber mais sobre o assunto, leia o texto The First Labor Strike in History, de Joshua J. Mark. Acesse também o artigo Convulsões Sociais no Antigo Egito: os trabalhadores da necrópole Tebana no final do novo reinado, de Thomas Henrique de Toledo Stella.

Tese aborda como Suetônio representa as multidões

Writer and rioters: perceptions and portrayals of urban crowds in Suetonius´ De Vita Caesarum, tese de Mestrado defendida por Jochem A. Commissaris na Radboud University (2022), trata das maneiras como Suetônio (69-141 d.C) representa as multidões em “A Vida dos Césares”. De acordo com Commissaris, pesquisadores se voltaram acima de tudo ao estudo das multidões romanas do final da República Romana e da Antiguidade Tardia, momentos em que elas supostamente teriam atuado de maneira mais violenta nos conflitos políticos. Commissaris, por sua vez, aborda os aspectos narrativos e autorais da obra investigada e trata de um período para o qual a atuação política das multidões é pouco explorada. Assim, o autor recoloca a problemática da ação coletiva para o início do Império Romano e questiona um modelo historiográfico segundo o qual as multidões teriam se tornado mais ordeiras e controláveis pelas elites do período. A tese é dividida em uma introdução, uma discussão metodológica, três capítulos, dois apêndices e referências bibliográficas. O primeiro capítulo é dedicado a debates historiográficos. O segundo capítulo é dedicado à identificação de padrões de representação da multidão na obra investigada. Por fim, o terceiro capítulo busca confirmar esses padrões em nove passagens particulares, analisadas em detalhes pelo autor. A tese pode ser acessada aqui.

Eventos

II Seminário Linhas de Pesquisa História Social USP

De 25 a 27 de outubro acontece o II Seminário Linhas de Pesquisa História Social USP. O evento será transmitido online pelo Canal Oficial História USP e contará com a participação do grupo de pesquisa Subalternos e Populares da Antiguidade. Os trabalhos dos membros do GSPPA se inserem na linha de pesquisa História dos Movimentos e das Relações Sociais. Participam da mesa 1, que ocorre no dia 25 de outubro, das 14h às 16h, Giovan do Nascimento (Exílio e influência clerical na África Vândala a partir da obra de Fulgêncio de Ruspe) e Pedro Benedetti (As Relações Sociais nas fronteiras da Aquitânia visigótica 418-476). A mesa 3, que acontece no dia 26 de outubro, no mesmo horário, contará com a presença de Jessica Regina Brustolim (A prática de amaldiçoar em Mogontiacum: deposição, textos e relações sociais) e Rafael Aparecido Monpean (Transitar pelas ruas e experimentar as cidades na Antiguidade Tardia: perspectivas e problematizações a partir da África do Norte entre os séculos IV-V). Se tiver alguma dúvida, entre em contato pelo e-mail ppghs.seminario@gmail.com

Sulpícia: a voz de uma mulher da Roma Antiga

De 29 a 30 de outubro, às 9h no horário local (EDT), 10h no horário de Brasília, acontece a conferência online Sulpicia: A Woman’s Voice from Ancient Rome, organizada pelo Departamento de Estudos Clássicos da Universidade da Virgínia. O evento é parte das atividades do The Siren Project: Women’s Voice in Literature and the Visual Arts, cujo objetivo é promover debates sobre a representação e o papel da voz feminina na literatura e nas artes visuais ao longo do tempo, bem como criar uma plataforma para sediar discussões rigorosas e abertas sobre a capacidade das mulheres de falar e fazer ouvir sua voz. Informações importantes para a reunião no Zoom. O ID da reunião: 976 5073 3300 e a senha: 628154. Para mais informações, entre em contato com Giulio Celotto pelo e-mail gc4fw@virginia.edu

Dicas de leitura

De Escravos a Benfeitores: os libertos e a munificência na Hispania Romana (São Carlos: Pedro & João Editores, 2021), de Filipe Noé da Silva, é uma investigação sobre como escravos alforriados na província romana da Bética nos séculos I e II d.C. manifestaram generosidade para com suas cidades como forma de garantir outra reputação social, rompendo com seu passado de escravidão.

Mulheres nos Cristianismos Paulinos (Rio de Janeiro: Kliné, 2021), de Juliana B. Cavalcanti, é um estudo sobre as formas de participação de mulheres nos primeiros movimentos cristãos, opondo-se àquilo que a autora vê como um processo multissecular de silenciamento sobre a atuação das mulheres nas primeiras comunidades cristãs.

Para mais dicas de leitura, acesse nosso blog neste link.

O Boletim Subalterno é uma newsletter criada e editada pelo grupo de pesquisa Subalternos e Populares na Antiguidade. Conheça nosso blog em www.subalternosblog.com e acompanhe nossas redes sociais:

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Boletim Subalterno; terça-feira, 18 de outubro de 2022; ano 1; nº 8; escrito por Giovan do Nascimento, Julio Cesar Magalhães de Oliveira e Marcio Monteneri.

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