Vamos, então, passar brevemente em revista as IST mais conhecidas:
VIH/SIDA
O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) destrói o sistema imunitário, diminuindo as defesas contra outras infeções, e leva ao desenvolvimento de SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Por se encontrar principalmente no sangue, sémen e líquido pré-ejaculatório, fluidos vaginais e também no leite materno, este vírus transmite-se quando estes fluidos entram diretamente em contacto com outra pessoa pela via sexual e/ou sanguínea, ou durante a amamentação.
A infeção por VIH está associada a práticas sexuais desprotegidas e a partilha de objetos que possam conter sangue (agulhas e seringas, lâminas, entre outros), pelo que é importante evitar contactos de risco - o uso de preservativo e evitar a partilha deste tipo de objetos é mandatório!
Quando ocorrem contactos de risco, é importante fazer um teste rápido para rastreio. Este só deve ser realizado 3 meses após o contacto, e deve ser sempre confirmado em caso de reatividade. Atualmente, já há testes que permitem fazer diagnósticos mais cedo, entre o 12º e o 28º dia após o contacto de risco.
Embora não haja cura, já há tratamentos que evitam a evolução para SIDA, diminuindo a carga viral e permitindo aos infetados ter uma vida longa e com qualidade. Há também possibilidade de fazer profilaxia pré ou pós exposição, que diminui a probabilidade de vir a contrair esta doença em caso de contacto de risco.
Em caso de dúvidas, está disponível a linha Sexualidade em Linha (800 222 003).
Vírus do Papiloma Humano (HPV
O HPV infecta a pele e algumas mucosas, originando lesões em vários locais do corpo. É uma das IST mais comuns, sobretudo nos/as adolescentes, e atinge ambos os sexos.
Há vários tipos de HPV, que se dividem em 2 grandes grupos - de alto e baixo risco. Estão associados a diferentes doenças: verrugas da pele e genitais; cancro do pénis, do colo do útero e do ânus e canal anal. Pela multiplicidade de apresentações, o diagnóstico varia - algumas vezes são detetadas pela presença de verrugas, outras pela pesquisa de material viral/células alteradas, como se faz no rastreio do cancro do colo do útero.
O uso do preservativo masculino/feminino dá alguma proteção, mas não previne completamente a transmissão. É assim importante a vacinação, atualmente incluída no Programa Nacional Vacinação para crianças com 10 anos.
Clamídia e Gonorreia
Estas duas infeções são frequentemente diagnosticadas em conjunto.
A clamídia é provocada pela bactéria Chlamydia trachomatis que pode localizar-se na boca, pénis, vagina ou ânus. Pode infecta ambos os sexos em qualquer idade, mas é mais frequente nos jovens.
A gonorreia é provocada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, que pode infetar a uretra, o colo do útero, o ânus e a orofaringe. Transmitem-se principalmente pelas relações sexuais desprotegidas (sexo vaginal, oral e anal), e podem infetar o recém-nascido durante o parto, causando conjuntivite.
Na maior parte dos casos, estas são infeções assintomáticas, no entanto a transmissibilidade mantém-se. Quando surgem, os sintomas podem ser:
- Nas mulheres os sintomas são mais raros, mas pode surgir corrimento vaginal, hemorragia vaginal intermenstrual ou após as relações sexuais, dor abdominal, dor na relação sexual, dor ou ardor a urinar, náuseas e febre. Pode levar a complicações graves: endometrite, salpingite, doença inflamatória pélvica (DIP), infertilidade e gravidez ectópica;
- Os homens têm sintomas mais frequentemente, entre eles corrimento uretral, dor ou ardor ao urinar, dor ou desconforto testicular, inchaço do escroto, comichão na uretra. Pode surgir prostatite ou epididimite;
- Em ambos os sexos, pode surgir proctite com inflamação, dor e/ou exsudado anal, sangramento, feridas e dificuldade em evacuar.
Estas infeções devem ser sempre rastreadas em conjunto, associando ainda VIH e sífilis - a presença de uma IST potencia a infeção por outras (coinfecção). Este rastreio deve ser realizado anualmente quando há múltiplos parceiros ou parceiros ocasionais.
O tratamento é simples e eficaz, com recurso a antibióticos, e deve ser feito também ao parceiro sexual. Deverá haver abstinência sexual durante o mesmo.
O uso de preservativo é eficaz na sua prevenção - deve ser usado de forma sistemática e correta em todas as práticas sexuais (sexo vaginal, oral e anal).
Sífilis
Esta IST é provocada pela bactéria Treponema pallidum, que se transmite através de relações sexuais desprotegidas ou durante a gravidez.
Desenvolve-se em várias fases, bem estabelecidas:
- Sífilis primária: inicialmente surge uma ferida na região genital, oral ou anal, que dura cerca de 3 a 6 semanas, e desaparece espontaneamente;
- Sífilis secundária: 1 a 6 meses depois, podem desenvolver- se manchas na pele, rouquidão, queda de cabelo, gânglios aumentados no pescoço e axilas - sintomas que podem durar até 3 meses, e depois desaparecer;
- Sífilis latente: fase assintomática, que pode durar de 2 a 30 anos;
- Sífilis terciária: reaparecimento de sintomas, com lesões mais graves em vários órgãos, como o cérebro e o coração.
É importante lembrar que mesmo sem sintomas, a doença continua a ser transmitida aos parceiros, e que a mesma pessoa se pode reinfectar várias vezes ao longo da vida.
O diagnóstico faz-se através de exames sanguíneos e o tratamento é simples, com antibiótico, sendo importante fazer exames de controlo para aferir a resposta ao mesmo.
Hepatite B
A Hepatite B é uma infeção viral que pode causar hepatite aguda ou crónica. Transmite-se por fluidos genitais (esperma e secreções vaginais), corporais (sangue, urina e saliva) e pelo leite materno. Está associada a um grande risco de morte por cirrose e cancro do fígado, que surgem anos após a infeção; no entanto, a maior parte dos adultos saudáveis infetados conseguem eliminar o vírus num período de 6 meses.
Aquando da infeção em fase aguda, podem não haver sintomas ou haver apenas sintomas do tipo síndrome gripal, associado a icterícia (pele amarela).
Uma vez que ainda não há cura para esta infeção, o melhor é preveni-la: vacinando-se e evitando comportamentos de risco.
Herpes genital
Causado pelo vírus Herpes simplex, esta é uma infeção assintomática na maior parte das vezes. No entanto, podem desenvolver-se vesículas dolorosas na região genital e perianal, que podem ressurgir várias vezes ao longo da vida, sempre na mesma localização, embora com menos gravidade.
Transmite-se pelo contacto direto com pele com lesões. Assim, a melhor forma de prevenir a sua infeção é evitando o contacto quando há lesões herpéticas (risco de contágio maior) e utilizando o preservativo (embora este não consiga cobrir a totalidade da área infetada).Quando são detetadas lesões ativas durante o parto, é necessário recorrer à cesariana de modo a evitar a infeção do bebé.
Não há cura, no entanto o recurso a agentes antivirais pode diminuir a duração e gravidade do surto, devendo estes ser iniciados o mais precocemente possível.
Tricomoníase
Causada pelo parasita Trichomonas vaginalis, é uma das IST mais comuns.
Esta infeção pode ser assintomática, mas podem também surgir os seguintes sintomas:
- Na mulher: corrimento com odor forte e cor alterada, comichão à volta da vagina, hemorragia associada às relações sexuais, inchaço nas virilhas, maior frequência de micção e ardor ao urinar;
- No homem: corrimento uretral e irritação do pénis, maior frequência de micção e ardor ao urinar.
Embora tenha tratamento, o melhor é mesmo prevenir através da utilização do preservativo em todas as relações sexuais.
Pediculose púbica
Esta é causada pela infestação por Phthirus pubis, vulgarmente conhecidos por chatos. Estes parasitas vivem nos pelos púbicos e das coxas, mas podem espalhar-se por outros sítios, com exceção do couro cabeludo. Causam irritação cutânea e bastante comichão. Transmitem-se por contacto direto ou através da utilização de roupa ou outros têxteis infetados.
O tratamento é feito com recurso a medicamentos tópicos, e deve ser bastante exaustivo, retirando-se não só os parasitas adultos como também as lêndeas, sem esquecer o tratamento das roupas. Os parceiros sexuais dos últimos 3 meses devem também ser observados e tratados se necessário.
O uso do preservativo não previne esta infeção, pelo que se devem evitar contactos sexuais até se terminar o tratamento.
Escabiose
A escabiose é provocada pelo ácaro Sarcoptes scabiei var. Hominis, que se propaga através do contacto íntimo ou de roupas/têxteis. Provocam pequenas lesões muito pruriginosas, principalmente à noite, que podem depois levar a lesões de coceira e a sobreinfecção bacteriana. Nos adultos, predominam entre os dedos das mãos, punhos, mamas, nádegas e pénis.
O tratamento é feito com recurso a medicamentos tópicos, e deve ser bastante exaustivo, incluindo o tratamento das roupas. Os parceiros sexuais e os coabitantes devem ser tratados em simultâneo.
O uso do preservativo não previne a transmissão desta infeção, pelo que se devem evitar contactos sexuais até se terminar o tratamento.
Molusco Contagioso
Esta infeção viral cutânea é causada por um Poxvirus, sendo mais frequente nas crianças. Nos adultos, é considerada uma IST. A transmissão dá-se por contacto direto com pele com lesões, e menos frequentemente através da partilha de roupa/objetos.
Manifesta-se por pequenas pápulas peroladas, com centro deprimido, que nos adultos se localizam principalmente no púbis e área genital.
Esta IST é relativamente benigna, no entanto em pessoas imunodeprimidas pode ser bastante mais disseminada, com consequências mais graves.
Não há um tratamento específico, normalmente destroem as vesículas individualmente, de modo a diminuir a sua disseminação.
O uso do preservativo não previne a transmissão desta infeção, pelo que se devem evitar contactos sexuais até se terminar o tratamento.