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As festas de fim de ano na Roma Antiga

Na Roma antiga, dezembro era um período que compreendia um calendário variado de festas, dentre as quais talvez a mais popular fosse a Saturnália (ou as Saturnais). A Saturnália, festa em honra ao deus Saturno (assimilado ao Cronos grego), ocorria mais ou menos entre 17 e 23 de dezembro e se iniciava com um sacrifício no templo de Saturno, no sopé do monte capitolino. A Saturnália era famosa por sua alegria desenfreada e ruidosa, mas também por suas inversões carnavalescas: os senhores serviam seus escravos e os cidadãos vestiam a touca do liberto. Como o festival posterior do Carnaval, a Saturnália foi associada à sátira, às piadas e às ideias de licenciosidade. A partir do século IV e por todo o Império Romano foi um festival diferente que passou a capturar a imaginação popular: as Calendas de Janeiro. A festa, que marcava o início do Ano Novo, era, originalmente, muito associada ao poder romano. Na cidade de Roma, marcava a posse dos novos magistrados e, em todo o Império, o exército renovava seus votos de lealdade ao imperador. Em todas as cidades do Mediterrâneo, as autoridades promoviam procissões e corridas de circo para celebrar a data. Mas havia também toda uma folia festiva semelhante à Saturnália, com muita comida, bebida, troca de presentes, danças e cortejos com foliões fantasiados que corriam até as casas dos ricos e, especialmente, dos políticos, para exigir dinheiro vivo e até mesmo para protestar. Nas palavras de Lucy Grig, a festa do ano novo “fornecia uma fuga temporária das privações do inverno, uma oportunidade para desabafar. Também fornecia uma oportunidade para as pessoas ensaiarem uma mudança de identidade e – ao menos potencialmente – fazer uso do disfarce para melhorar sua condição material e para ajustar contas.” Para saber mais sobre o assunto, leia os textos Io Saturnalia!, de Jonathan Cruz Moreira, e As Calendas de Janeiro e a cultura popular na Antiguidade Tardia, de Lucy Grig, publicados no blog História Antiga a partir de baixo.

Romanitas traz dossiê sobre os grupos subalternos na Antiguidade

Acaba de ser disponibilizada a 19ª edição da Romanitas - Revista de Estudos Grecolatinos da UFES. A nova edição conta com o dossiê Periferias, subalternos e relações de poder no Mundo Antigo, que reúne uma série de textos que podem interessar estudiosos da História Antiga a partir de baixo. Confira a seguir algumas das contribuições destacadas pelo grupo de pesquisa Subalternos e Populares na Antiguidade (GSPPA). Em entrevista conferida à Romanitas, Fábio Duarte Joly (UFOP) aborda os Grupos subalternos e exploração do trabalho na Antiguidade. Jorge Elices Ocón (Unifesp) e Glaydson José da Silva (Unifesp) dividem a autoria do artigo Estátuas imperiais e grupos subalternos: destruição, ridicularização e crítica como subversão das relações de poder durante a Antiguidade Tardia. Marcos Roberto Pirateli, a partir da análise da obra A Guerra Judaica, de Flávio Josefo, fala sobre o banditismo social na Palestina Romana. Em Mobilizações coletivas na Roma tardo-republicana: repertórios de confronto e interesses nos 'Ludi Romani' (57 a.C.), Jonathan Cruz Moreira aborda as possibilidades de agência da plebe nas mobilizações coletivas da Roma tardo-republicana. A Revista conta ainda com outros artigos, publicados na seção Tema livre, bem como com resenhas de livros. Para acessar a 19ª edição da Romanitas na íntegra, basta clicar neste link.

Festival del Classico aborda história do trabalho

De 1 a 4 de dezembro aconteceu a 5ª edição do Festival del Classico, uma iniciativa da Fondazione Circolo dei Lettori. O festival, presidido por Luciano Canfora e com curadoria de Ugo Cardinale, promove aulas, diálogos, leituras, apresentações teatrais, entre outras atividades, cujo pano de fundo é a história. Nessa edição mais recente, os participantes fizeram uma série de reflexões sobre o trabalho, entre o classicismo e a contemporaneidade. Na sexta-feira, 2 de dezembro, ocorreu o debate Storia del lavoro dal mondo greco alla società capitalistica, com Giuseppe Cambiano, Ferdinando Cotugno, Lucilla Moliterno, Daniel Mercure e Stefano Feltri. No sábado, 3 de dezembro, Maria Cecilia D’Ercole e Aglaia McClintock debateram Il lavoro della donna e le attività mercantili nelle società greca e romana. No domingo, 4 de dezembro, ocorreu o diálogo Il lavoro dall’antichità alla nostra Costituzione, com Laura Pepe, Oliviero Diliberto, Gustavo Zagrebelsky, Massimo Cuono. Os conteúdos do Festival del Classico estão disponíveis nas redes sociais da Fondazione Circolo dei Lettori: podcasts no Soundcloud, alguns encontros de áudio e vídeo no Youtube, além de vídeos com alguns dos protagonistas do festival no Instagram e textos no Twitter. O Festival del Classico retorna a Turim em 2023, de quinta-feira, 30 de novembro, a domingo, 3 de dezembro. Para mais informações, basta clicar neste link.

Eventos

Trabalho infantil no mundo antigo

De 30 de agosto a 2 de setembro de 2023 acontece o evento Growing up while working: the significance of children’s work for ancient economies (Iron Age to Byzantine times), que visa abordar o trabalho infantil  e seu impacto sobre as economias antigas. Trata-se de investigar a integração de crianças em contextos econômicos da Antiguidade e iluminar as circunstâncias nas quais crianças livres e escravizadas cresceram, não apenas enquanto indivíduos ou membros de suas famílias e de suas sociedades, mas também como “participantes do mercado” e como membros de antigas comunidades de negócios. A sessão proposta convida contribuições que façam uso de fontes epigráficas e papirológicas. Outras evidências como textos legais, representações visuais e vestígios arqueológicos serão igualmente bem-vindas. Esse evento (em formato híbrido) é parte do 29º Encontro Anual da Associação Europeia de Arqueologistas (EAA) e será realizado em Belfast. Interessados em participar podem enviar o resumo até 9 de fevereiro através deste link.

 

 

Dicas de leitura

Xenofobía y racismo en el Mundo Antiguo (Edicions de la Universitat de Barcelona, 2019, 266 páginas), organizado por Francisco Marco Símon, Francisco Pina Polo e José Remesal Rodríguez, aborda questões sobre a xenofobia e o racismo na Antiguidade. Os autores argumentam que fatores como língua, etnia e religião foram mobilizados para justificar a dominação e ridicularizar certas populações no Império Romano. Eles também demonstram como discursos contemporâneos se valem de ideias da Antiguidade para justificar práticas racistas e xenófobas atuais.

Em Mary and Early Christian Women: Hidden Leadership (Palgrave MacMillan, 2019, 295 páginas), Ally Kateusz aborda como os estudos sobre Maria, mãe de Jesus, tendem a colocá-la como figura secundária e modelo de obediência feminina, apesar da ampla evidência iconográfica e em textos apócrifos indicarem o oposto. Ela demonstra como essas fontes indicam o protagonismo de mulheres, sobretudo de Maria, nas primeiras comunidades cristãs, e argumenta, também, que o silenciamento do protagonismo das mulheres ocorreu por conflitos internos às igrejas sobre papéis de gênero.

Para mais dicas de leitura, acesse nosso blog neste link.

O Boletim Subalterno é uma newsletter criada e editada pelo grupo de pesquisa Subalternos e Populares na Antiguidade. Conheça nosso blog em www.subalternosblog.com e acompanhe nossas redes sociais:

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Boletim Subalterno; terça-feira, 27 de dezembro de 2022; ano 1; nº 13; escrito por Giovan do Nascimento, Julio Cesar Magalhães de Oliveira e Marcio Monteneri.

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