Diversificação alimentar no 1º ano de vida

A introdução dos primeiros alimentos é alvo de grande preocupação por parte dos pais. Este é um tema que está longe de ser consensual entre profissionais no que diz respeito ao início da introdução e alimentos a iniciar.

A diversificação alimentar é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o processo que se inicia quando o aleitamento materno em exclusivo não é suficiente para suprimir as necessidades nutricionais do bebé, sendo necessária a introdução de novos alimentos e líquidos em conjunto com o leite materno. Esta definição considera que o leite adaptado é já uma forma de diversificação alimentar, não definindo uma idade óptima para o início de novos alimentos nestes bebés.

A OMS defende que se deve promover a amamentação em exclusivo até aos 6 meses de vida, e em complementaridade até aos 2 anos de idade. No entanto, a realidade das famílias portuguesas é diferente. Na maioria dos casos, as mães regressam ao trabalho por volta dos 4 meses de vida do bebé, o que torna este alvo pouco exequível.

Recentemente, em 2017, após rever estudos sobre o tema, a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) publicou um artigo que defende o início precoce da diversificação alimentar inclusivamente de alimentos que se protelavam anteriormente e que veio mudar paradigmas.

Quando iniciar?

A introdução de novos alimentos não deve ser iniciada antes dos 4 meses nem após os 6 meses de vida. Antes dos 4 meses, os bebes não apresentam ainda maturidade renal ou gastrointestinal para digerir os novos alimentos. É também a partir desta idade que os bebés começam a desenvolver as capacidades motoras para ingerir comida à colher. Aos 6 meses os bebés esgotaram as suas reservas de ferro, pelo que estas têm de ser suplementadas com comida. O inicio da diversificação alimentar aos 4 meses não está relacionada com o aumento do risco de infeções do trato respiratório inferior, alergia ou obesidade, como antes se pensava.

O que iniciar?

Os alimentos a introduzir dependem principalmente dos hábitos culturais dos pais e o bom senso deve imperar. Algumas regras devem ser respeitadas:

- Até ao primeiro ano de vida, o principal alimento do bebé deverá ser o leite materno ou adaptado;

- Acrescentar um alimento novo de 3 em 3 dias;

- o glúten deverá ser introduzido entre os 4 e os 12 meses de idade sem aumento do risco de alergia, doença celíaca e diabetes mellitus tipo 1 ao contrário do que se pensava anteriormente. Porém, em pequenas quantidades durante as primeiras semanas após a introdução;

- A introdução de alimentos alergénios como o ovo ou o amendoim deve ser precoce (entre os 4 e os 11 meses), até nas crianças com antecedentes familiares de alergias (embora estas devam ser acompanhadas). Esta abordagem mostrou uma diminuição do risco de alergia;

- O leite de vaca não deve ser introduzido antes dos 12 meses;

- A carne e o peixe são a melhor fonte de ferro, e, apesar de este também se encontrar disponível em legumes de cor verde escura, como o espinafre ou a couve, não é tão facilmente absorvível. Portanto, a introdução da carne não deverá ser protelada muito para lá dos 6 meses;

- O peixe (pescada, linguado, solha, por exemplo) também deve ser introduzido precocemente (após os 6 meses), uma vez que constitui uma fonte essencial de ácidos gordos polinsaturados, os quais desempenham um papel importante no desenvolvimento do cérebro;

- A quantidade de proteína ingerida diariamente não deve superar os 15%. Verificou-se que uma dieta hiperproteica está mais associada ao desenvolvimento de obesidade que uma dieta rica em gorduras.

 

Alimentos a evitar

O sabor intrínseco dos alimentos deve ser preservado, estando contraindicada a adição de açúcar e/ou sal.

Evite as papas de fruta de compra uma vez que contém açúcares adicionados. Da mesma forma, não devem ser dadas bebidas açucaradas mesmo que publicitadas como sumos de fruta.

O mel não deve ser oferecido antes dos 12 meses, uma vez que tem vindo a ser associado a casos de botulismo.

O funcho deve ser evitado até aos 4 anos de idade. Ele está presente em chás e infusões que visam diminuir as cólicas do bebé, no entanto estudos recentes consideram-no um poderoso carcinogéneo. Pelo mesmo motivo, as bebidas de arroz devem ser também evitadas.

Como iniciar?

A consistência da comida deve ser adaptada ao desenvolvimento do bebé. Comece por oferecer purés e vá aumentando a consistência da comida gradualmente, sempre à colher. Comece pela sopa (1 por dia no primeiro mês de diversificação – base de batata, cenoura e alface, por exemplo), uma vez que a preferência pelo doce é inata e não precisa de ser estimulada, ao contrário do gosto pelos legumes. Posteriormente poderá adicionar a fruta triturada à sobremesa e a papa ao lanche. Dê preferência às papas não lácteas caso tenha leite materno armazenado para as confecionar.

Alimentos semi-sólidos podem começar a ser oferecidos a partir dos 6 meses e obrigatoriamente até aos 10 meses para estimular a mastigação e o desenvolvimento do bebé.

Uma nova corrente, a Baby Led Weaning, defende que os alimentos semi-solidos devem ser postos à disposição do bebé e este deve poder escolher o que leva à boca com as mãos. Isto levanta algumas preocupações sobre se, desta forma, a quantidade ingerida de nutrientes é suficiente para suprimir as necessidades. Segundo a ESPGHAN, ainda é cedo para emitir um parecer e mais estudos são necessários neste sentido.

Os horários de alimentação deverão ser flexíveis e os pais deverão responder às expressões de fome do bebé. Se as refeições da criança coincidirem com as da família melhor, para que este se torne um momento de comunhão.

 

Em conclusão, os alimentos a introduzir dependem dos hábitos da família e a introdução deve acontecer de forma gradual. O objetivo é que a partir dos 12 meses a criança possa partilhar as refeições da família, desde que estas sejam equilibradas e saudáveis. Não existe um consenso sobre a idade ideal de introdução de qualquer alimento, incluindo o peixe ou a carne, apenas as regras supracitadas devem ser respeitadas. As tabelas rígidas de introdução alimentar têm vindo a ser descartadas.

A amamentação tem inúmeras vantagens para si (diminuição do risco de cancro da mama e do ovário, maior facilidade em recuperar a sua forma anterior) e para o bebé (diminuição do risco de otites, gastroenterites, infeções respiratórias baixas severas, doenças alérgicas, diabetes tipo 1 e 2, leucemia, síndrome de morte súbita, entre outras). Por isso, amamente o máximo que conseguir, mas não se iniba de iniciar a diversificação alimentar a partir dos 4 meses, se tiver que o fazer.

 

Se tiver dúvidas, os profissionais de saúde da USF Andreas encontram-se disponíveis para as esclarecer.

Bibliografia

- Guerra, A. et al (Comissão de Nutrição da Sociedade Portuguesa de Pediatria), Alimentação e Nutrição do Lactente, in Acta Médica Portuguesa, Vol. 43 nº5, Setembro/outubro 2012, ISSN 0873-9781;

- Fewtrell, M. et al, Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN), in Journal of Paediatric Gastroenterology and Nutrition, Volume 64, No. 1, Janeiro 2017.

Elaborado por: Dra. Rita Silvestre

Design : Rute Santos

R. Dr. Domingos Machado Pereira, Mafra, Portugal
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