Feriae De acordo com o dicionário escolar latino-português de Ernesto Faria, a palavra férias (em latim, feriae) quer dizer “repouso em honra aos deuses”, e daí: “dias de descanso, dias feriados, férias, festas”. Em um verbete publicado na seção “Léxico” do Nexo Jornal, Sofia Nestrovski explica que na Antiguidade romana a palavra feriae era empregada para denominar os dias de festas religiosas, quando os romanos não trabalhavam. A maior de todas era a Saturnália, celebrada de 17 a 23 de dezembro. Nas palavras de Nestrovski, “nos dias de Saturnália, apenas os cozinheiros trabalhavam, já que tinham que preparar os banquetes para as festividades. Fora isso, todos celebravam. Os escravos faziam as vezes de senhor, e os senhores, de escravos. Aos primeiros era dada total liberdade para debochar dos senhores, recriminá-los por abusos, maus tratos ou vícios. Podiam dizer todas as verdades em tom de piada, e o senhor era obrigado a achar graça. [...] O escravo mandava, o senhor obedecia, os dois festejavam”. Essa suspensão das hierarquias pode ser compreendida, pelo menos, de duas maneiras: como uma “válvula de escape”, um momento para sublinhar fronteiras sociais, aliviar tensões e desigualdades; mas também como momento de resistência e de apropriação das tradições por parte de grupos subalternos para que verdades fossem ditas e contas fossem acertadas. De todo modo, a Saturnália é claramente um festival que tem muito a oferecer aos interessados na história vista de baixo. Para saber mais sobre o assunto, leia os textos As Calendas de Janeiro e a cultura popular na Antiguidade Tardia, de Lucy Grig e Io Saturnalia!, de Jonathan Cruz Moreira. |
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GSPPA realiza sua última reunião de estudos deste ano Na sexta-feira, 24 de novembro, aconteceu a última reunião de estudos deste ano do grupo de pesquisa Subalternos e Populares na Antiguidade (GSPPA). O texto discutido foi Late Antiquity: The Age of Crowds?, de Julio Cesar Magalhães de Oliveira, publicado na revista Past and Present, em 2020. Nesse artigo, o autor busca explicar por que as tradições populares e formas de ações coletivas ganham um novo significado na Antiguidade Tardia, contestando a historiografia tradicional que a caracteriza como um indício de disfunção da sociedade, seja como consequência da desintegração do Império Romano ou como resultado do aumento do controle social por parte da elite. A partir de diferentes fontes como histórias narrativas, crônicas, cartas imperiais e documentos legais, procedimentos de concílios eclesiásticos, sermões e cartas de bispos, Magalhães de Oliveira caracteriza o período de 300 a 600 na Itália, no Norte da África e no Mediterrâneo Oriental como reflexo da crise da hegemonia da aristocracia e a expansão de oportunidades de intervenção popular nas cidades antigas. O encontro fechou o ciclo de atividades do GSPPA de 2023, que serão retomadas no próximo ano. As inscrições para novos participantes estarão abertas no início de 2024. Para mais informações, entre em contato conosco pelo e-mail subalternos@usp.br |
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Retrospectiva GSPPA 2023 Confira a seguir as principais atividades realizadas pelo grupo de pesquisa Subalternos e Populares na Antiguidade (GSPPA) neste ano de 2023. Além das 23 edições publicadas do Boletim Subalterno, neste ano o GSPPA preparou 22 sugestões de livros e publicou 2 novos textos no blog História Antiga a partir de baixo, a saber, Como a plebe romana protestava?, de Jonathan Cruz Moreira e As cartas de escravos da Antiguidade, de Kostas Vlassopoulos. O grupo promoveu eventos como a palestra A dedicação de um altar a Hércules por um escravo nas pedreiras de Trogir, Croácia, com Lilian de Angelo Laky e o Colóquio Internacional Moral Economy in Ancient Societies, realizado em parceria com o Laboratório de Estudos Medievais (LEME). Dois membros do GSPPA defenderam suas teses de doutorado: Pedro Benedetti, autor da tese As relações entre as populações provinciais romanas e os bárbaros nas Gálias dos séculos IV e V (c. 350–475 d.C.) e Rafael Aparecido Monpean, autor da tese Cidades e sentidos na Antiguidade Tardia: transformações das topografias urbanas e dos campos sensoriais na África do Norte entre os séculos IV e VII. Em 2023 também saiu o primeiro volume da série “Antiguidade e Subalternidade”, obra intitulada Agência, conflitos e subalternidade na Antiguidade, organizada por Juliana Marques Morais, Pedro Benedetti e Rafael Monpean. Neste ano, o projeto Vozes Subalternas: Mapeamento e catalogação de escritos de mulheres e homens subalternizados na Antiguidade greco-romana foi renovado e a partir do projeto Subalternidades Digitais iniciamos uma série de postagens nas redes sociais, incluindo o “fonte da semana”, disponibilizado no Instagram do GSPPA. Os membros do GSPPA desejam a todos os nossos leitores boas festas de fim de ano! |
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Rainhas de um mundo decadente Na segunda-feira, 11 de dezembro, das 16:15 às 18:00 (horário local), acontecerá a palestra Queens of a Fallen World: Slavery, Freedom, and Women's Agency in Augustine's Confessions, com Kate Cooper. Nesta palestra, Kate Cooper aborda relatos de Santo Agostinho e fala sobre a agência de mulheres, crianças e escravos diante das restrições impostas pelo gênero, pela situação legal e pela classe social. Pessoas interessadas poderão acompanhar o evento via Zoom. Mais informações neste link. |
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The Dignity of Labour: Image, Work and Identity in the Roman World (Amberley Publishing, 2021), de Iain Ferris. Nesta obra, Ferris mostra como representações artísticas de ofícios e de trabalhadores romanos eram utilizadas como meios de construção identitária e negociação de status social no mundo romano. O autor analisa diversas evidências materiais do ocidente romano, sobretudo inscrições e monumentos mortuários, que representavam os ofícios dos trabalhadores urbanos, no interior de um amplo recorte temporal, que vai da República até a o Império Tardio. |
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Class Struggle in the New Testament (Fortress Academic, 2019), editado por Robert Myles. Os autores desse livro, pautados sobre a análise dos textos e das tradições que compõem o Novo Testamento, exploram os conceitos de “classe” e de “luta de classes” nos estudos bíblicos e discutem questões como as lutas coletivas, os usos bíblicos da escravidão como metáfora, assim como temas mais abrangentes como as implicações da ideologia capitalista sobre a interpretação da Bíblia, dentre outros. |
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Para mais dicas de leitura, acesse nosso blog neste link. |
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Boletim Subalterno; quinta-feira, 7 de dezembro de 2023; ano 2; nº 36; escrito por Isabella Pondian Casteleti e Marcio Monteneri. |
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