Refúgio do ruído Curadoria e textos de João Villaverde |
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Todo dia terminado em 7 (07, 17 e 27) no seu e-mail, de graça. Uma newsletter bem pessoal. Aqui você receberá sugestões de leituras acompanhadas de breves comentários. A ideia do nome veio do ambiente insalubre lá fora, cheio de ruído.
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Impostos desiguais A ideia sempre parece boa: o governo deixa de cobrar impostos de uma empresa e, em troca, ela estabelece uma fábrica (ou centro de distribuição ou o que for) em um território distante de cidades mais centrais. Essa política, a desoneração tributária, é usada a torto e a direito no Brasil, por exemplo. Mas, na prática, a teoria é outra.
Um estudo muito interessante da economista da Universidade de Columbia, Cailin Slattery (essa mulher é brilhante, vale acompanhar tudo o que ela produz), feito em parceria com Owen Zidar, de Princeton, com dados de desonerações tributárias oferecidas por diversos governos regionais nos EUA nos últimos 16 anos, é mais um tijolo nessa construção de conhecimento sobre os efeitos dessa política pública. |
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Cailin e Owen não encontraram consequências econômicas robustas (empregos melhores e/ou mais estáveis; avanço da produtividade) nas diversas decisões de incentivos fiscais concedidos a empresas de todo tipo de setor. O único efeito incontestável é, claro, a diminuição da arrecadação do governo que dá o benefício.
O estudo mostra, também, que políticas de desoneração tributária são usadas principalmente em territórios mais pobres (seja municípios ou estados), na tentativa de "competir" com as regiões mais ricas. Cailin e Owen apontam também que esses descontos de impostos para as empresas são mais usadas quando o(a) governante busca a reeleição. Quer ler mais sobre isso? Clique aqui. A íntegra está aqui (vale, mesmo, ler).
Food for thought: No Brasil, apenas o governo federal deixa de arrecadar por ano cerca de R$ 292,8 bilhões em tributos (veja a página 56 do relatório do TCU) por conta das desonerações. |
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Não é só o vinil Os filmes da Kodak (lembra?) estão voltando a ter interessados em número relevante o suficiente para manter viva a companhia, que entrou em falência em 2012. Neste ano, quatro dos nove selecionados para a categoria de "melhor filme" do Oscar usaram filme de rolo, e não câmeras digitais, para serem registrados. Apenas dois anos atrás, 91% (sim, 91%!) dos filmes mais assistidos em cinema nos EUA eram digitais. Esse formato foi criado pela própria Kodak. Mas ela não conseguiu acompanhar o desenvolvimento do formato digital. Há filmes inteiros registrados em iPhones, por exemplo... |
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... por isso que a retomada (a partir de Christopher Nolan, Tarantino e outros) para filmes de rolo pode ao menos trazer um equilíbrio. Aliás, usar um filme de rolo em 2020 é como ouvir música em vinil em tempos de Spotify (eu ouço ainda em CD, o que deve configurar um limbo humanitário em algum ranking desimportante). Essa retomada do filme tradicional, no entanto, pode sofrer uma parada súbita por conta do impacto do Coronavírus (COVID-19). Cinemas vazios na China, cancelamento de filmagens e postergações de lançamentos, como o novo 007, podem sinalizar menos demanda por filme de rolo justamente quando ele estava ensaiando uma volta. A ver. |
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FUGA Com 2020 começaram também os anos 20. Gostei muito da coluna de João Pereira Coutinho que trata das três décadas 1990-2000-2010 a partir das séries de TVs. Enquanto que nos anos 90 as séries eram mais leves (Friends, Seinfeld, Fraisier), sinal do fim da Guerra Fria e da linguagem universal da TV, nos anos 2000, época de terrorismo e medo, as séries ficaram mais sombrias e realistas (Sopranos). Já a década de 2010, de individualismo exacerbado pelo streaming é da perda de ilusões (Breaking Bad), de realismo total (Mad Men) e cinismo (House of Cards). Vale ler.
P.S. Tirei essa foto que acompanha a seção Fuga em maio de 2013, durante uma viagem de trabalho. Eu estava no sertão baiano. Lá na frente está Monte Santo.
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BOAS LEITURAS Comecei o ano lendo um rico livro de poesias da escritora mineira Ana Martins Marques. A dica quem me deu foi Bárbara, minha companheira. Se você lê pouca poesia (como eu) ou está desesperado com o andar da carruagem no país (como eu) ou simplesmente adoraria ler um bom livro de poesia, não deixe de buscar "O livro das semelhanças" (Companhia das Letras) na livraria ou sebo mais próximo de você. Uma de minhas preferidas:
"Quando enfim fechássemos o mapa o mundo se dobraria sobre si mesmo e o meio-dia recostado sobre a meia-noite iluminaria os lugares mais secretos"
P.S. A foto que acompanha esse segmento Boas Leituras eu tirei de dentro da Hatchard´s, livraria londrina que está no mesmo endereço no bairro de Green Park desde 1797. Uma joia urbana. |
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PAUSA Uma casa modernista de 1913 no litoral da Catalunha está à venda. Se você estiver de bobeira e com 24,5 milhões de euros para gastar, olha, fica a dica.
A casa é maravilhosa, está reformada e pronta para morar. Um dos vizinhos era Salvador Dalí. Na orla da praia em frente à casa é possível encontrar até hoje vestígio dos artistas que lá se inspiraram. Para ver fotos, clique aqui.
P.S. A foto que acompanha esse segmento Pausa não faz parte da casa em questão. Eu fiz esse registro de dentro de um prédio em Paris, numa viagem de trabalho em outubro de 2019. |
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Morreu nesta sexta-feira, 06/06, o grande McCoy Tyner. Um músico completo. A humanidade fica mais obtusa sem ele.
Sempre achei "Contemplation", de seu disco de 1967, uma espécie de pouso suave: ajuda a refletir. |
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Sobre a newsletter Decidi escrever essa newsletter para compartilhar com amigas e amigos alguns pensamentos e algumas das leituras mais interessantes que venho fazendo. Se você tiver dicas na linha do que encontrou aqui, me mande!
Todo dia terminado em 7 (por causa do Botafogo -- I know, I know) mandarei ela para você.
P.S. A foto que acompanha esse segmento foi tirada por mim de dentro do Ship´s Tavern, uma taverna instalada no centro de Londres desde 1549 (você não leu errado; o bar foi inaugurado um século antes de Hobbes escrever O Leviatã e antes, também, da Revolução Gloriosa). |
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Obrigado por chegar até aqui. No dia 17 tem mais. |
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