. BLOOM SATIVUM .

FEVEREIRO

"Quando a Candelária chora, o Inverno já está fora.

Quando a Candelária rir, o Inverno está para vir.»

Janeiro mostrou-se frio, acenava-nos vestido de branco quase todas as manhãs e convidava-nos a sermos espectadores atentos do dissolver do gelo por entre os primeiros raios de Sol. O solo fez-se pedra, as plantas cristais e parece que ficamos parados no tempo. De repente, vieram as chuvas por quem tanto chamáva-mos e os dias alongam-se à medida que se alagam.

 

Chegou o mês mais curto do ano, que por ironia ou não, se anúncia com o nome mais comprido dos doze: Fevereiro, nome de origem Etrusca e que está ligado ao deus Februus, o deus da purificação/purgação e do subterrâneo. Durante este mês festejava-se Februalia, onde etruscos e romanos honravam esse mesmo deus que associavam à água purificadora das fontes, dos poços sagrados ou da chuva dos céus, que era capaz de limpar caminho no solo e torná-lo friável, o que dava como por terminada a meditação de Inverno. Como forma de preparação para a Primavera, que agora já se avistava, eram feitas as limpezas de vestígios de escuridão ou petrificação através de banhos quentes e sudação, a fumigação de espaços com incensos e dádivas eram deixadas nas fontes de água para que estas não deixassem de correr no ciclo de fertilidade que aí vem.

 

Neste mês comemora-se também a Candelária que assumiu o lugar do Imbolc da cultura pagã. No entanto, a Senhora da Candelária e a Deusa Brígida celebrada no Imbolc acabam por ser muito semelhantes: ambas estão conectadas com o fogo, a criação ou criatividade e o despertar de algo que estava em dormência, o sair da escuridão, a cura em si. Neste meio tempo entre o Solstício de Inverno e o Equinócio de Primavera era costume queimarem-se as grinaldas que viveram nas nossas casas nos meses frios, abençoava-se no fumo desse fogo as ferramentas que nos ajudarão a cuidar da terra e dar-se início aos trabalhos do campo com dádivas de leite e pão, para os espíritos da Terra serem alimentados e chamados à acção.

 

Cada cultura tinha e tem uma forma muito própria de honrar o avivamento do solo mas a nenhuma passava indiferente a necessidade de o fazer de forma activa e como celebração em comunidade,

pois a visão que é partilhada parece ter mais força para se tornar Primavera.

 

"O que é magia? No sentido mais profundo, a magia é uma experiência.

É a experiência de nos encontrarmos vivos dentro de um mundo que está vivo."

David Abram

 

Plantas que se fazem Ouvir

 

O ser humano sempre sentiu vontade de nomear e classificar a biodiversidade com que co-habitava, por vezes  de uma forma mais intuitiva e de outras de uma forma mais racional. O dar nome às coisas vem de mãos dadas com a comunicação, precisamos deles para podermos partilhar com os outros, porque no eu solitário o sistema de classificação é diferente, é mais sensorial. Os nomes-comuns das plantas eram informações valiosas que nos permitiam perpetuar dentro da nossa comunidade o conhecimento das plantas utilitárias, as comestíveis, as medicinais, as ancestrais, as venenosas... Com os nomes vinham as histórias e nas histórias vivia a cultura.

 

A taxonomia, ou método de arranjo da Biologia, sempre existiu mas como em todas as ciências no decorrer da história foi-se tornando cada vez mais específica e hierárquica, mas só na função porque na verdade todos os graus de classificação aglomera-se ao grau anterior. Hoje em dia, tudo o que vive é classificado em espécies que são indivíduos únicos, géneros que são os que têm parecências indiscutíveis com o indíviduo, tal como os nossos pais e irmãos,  famílias que são seres que partilham ainda semelhanças mas não tão óbvias, tal como primos que às vezes por um sorriso ou expressão se vê que estão relacionados. A classificação continua desta forma sempre relacionada, mesmo ao nível dos reinos que hoje se compartem em 7 divisões, em que a maioria que foi adicionada é microbiologia: Bacteria, Archaea, Protozoa, Chromista, Plantae, Fungi e Animalia, infelizmente o reino Mineral foi desclassificado pela Ciência, mas há quem lhe dê o devido valor e saiba que sem ele os outros reinos não sobreviveriam.

 

O que existe, de forma científica ou não, é sempre uma lei de semelhanças que faz com que o nosso processo de apreensão do mundo parta da observação de um objecto ou conceito que inevitávelmente nos pede para expandirmos a nossa visão e o relacionar-mos com tudo o resto que conhecemos.

 

Tal como a saudação da tribo Lakota nos lembra "Mitakuye Oyasin", somos todos parentes.

 

As Asteráceas em flor

Bellis perennis - Margarida | Calendula officinalis ou Calendula arvensis - Calêndula | Chamaemelum nobile - Camomila

 

Uma das mais extensas famílias no reino das Plantas é a das Asteráceas, com mais de 30,000 espécies esta é família dos asteriscos, das flores em forma de estrela, as ilusionistas que nos fazem pensar que estamos a olhar para uma flor quando na verdade esta esconde centenas de flores em si. São as Alfaces, as Alcachofras, os Cardos, os Dente-de-leão, as Chicórias, os Girassóis, as Artemísias, as Equinácias, as Arnicas, os Milefólios, as Margaridas, as Calêndulas, as Camomilas...

São estas três últimas que nos falam desta vez, estão em flor e pedem a nossa atenção. São plantas herbáceas de porte baixo, de folhas carnudas e margem arredondadas, sendo as da Camomila mais recortada que as outras, e de flores compostas (muitas flores numa só) com a forma de estrela. A nível medicinal todas elas são desde tempos antigos usadas para acalmar irritações, abrasões ou contusões que possam surgir na nossa pele. A pele é o nosso maior orgão, o que torna visível os processos internos, como uma chamada de atenção para os bloqueios que não vemos a olho nú e que claro recusamos aceitar que existem.  Tal como a água de Februus que desbloqueia o que estava empedrecido ou o Fogo de Brígida que ilumina o que não se conseguia ou queria ver, estas três plantas espontâneas sabem como trabalhar por dentro mesmo que aplicadas só à superfície, como as suas flores que mostram a luz em dias cinzentos, os poros da nossa pele abrir-se-ão para deixar passar a luz medicinal de cada uma.

Eram feitos bálsamos de cada uma das plantas e cada um com usos específicos, mas o processo base passava sempre pela maceração das flores recém abertas em óleo vegetal, podenso ser usado azeite, óleo de sésamo, óleo de linhaça ou outro que prefiram.

 

Se num destes dias o sol vier e a chuva evaporar das folhas, podemos colher com respeito algumas das flores de das plantas, sendo os dias AR (ver calendário abaixo) os melhores para preservar as qualidades luminosas destas plantas. Depois só temos que submergi-las em óleo num local solarengo por um ciclo lunar, uma janela virada a sul, uma marquise que mantenha o calor são sítios ideais.

 

Depois desse tempo em infusão, temos um óleo macerado que transporta em si as qualidades medicinais das plantas. Podemos usar como óleo em si ou adicionar cera de abelha para fazermos bálsamos.

 

A Calêndula auxilia-nos na cura de pequenos cortes, arranhões, assaduras, gretas ou queimaduras tanto de frio como de calor. Ajuda-nos a tornarmo-nos receptivos e empáticos com o que antes viamos como agressão ou separação.

 

A Camomila sabe como suavizar as irritações de pele e as reacções alérgicas. Uma ajuda imprescíndivel quando estamos particularmente sensíveis e algo inesperado nos perturba e nos faz ficar tensos, como os sustos, ou quando ficamos facilmente irritados.

 

A Margarida deve ser chamada a acção em casos de trauma ou constrição tanto de veias, como de tendões ou músculos como no caso de nódoas negras, varizes, entorces ou contraturas músculares. Uma ajuda vital depois de intervenções cirúrgicas que traumatizam sempre o corpo. Cresce em sítios ensombreados e não tolera sol directo e altas temperaturas por tempos prolongados, mostra-nos assim a capacidade que tem de trabalhar a na escuridão, no que foi pisado.

 

A Deusa Brígida era vista como tripla divindade pelos Celtas, emanava o seu dom como padroeira da cura, da poesia e dos ferreiros. Tal como Brígida a Calêndula cura o que foi agredido para que se restabeleça a paz entre duas realidades que entrem em fricção ou ruptura por se acharem distintas, a Camomila leva a sensibilidade para o lado positivo dos caminhos criativos da poesia e a Margarida que tal como o ferreiro trabalha com material denso e constricto pelo frio, através do calor do fogo amolece-o e dá-lhe forma para que sirva a função respectiva.

 

 

Ideias e Sugestões

É já no próximo dia 11 de Fevereiro que se vai realizar a 3a Feira de Troca de Sementes de Paredes de Coura. É sempre uma alegria percebermos que já nos estamos a preparar para sair da hibernação e começar a semear!

 
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- CALENDÁRIO LUNAR -

O facto de podermos seguir o bailado dos céus ajuda-nos a compreender melhor o nosso lugar nesta Terra. Partilhamos com vocês o calendário que fizemos deste mês para que possam ir seguindo os ritmos lunares de forma mais atenta. Podem imprimir e pendurar onde quiserem, o melhor formato é o A3, bom proveito.

 
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- WORKSHOP -

No dia 25 de Fevereiro vamos dedicar um dia à comunicação autêntica entre nós humanos e as plantas espontâneas. Sem grandes palavras mas com muito sentido assim será o dia passado na Fabryka das Artes no Porto, ao experienciar é que se aprende!

 
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Caminhar os Sentidos . Praia de Afife

Em Janeiro, no Caminho da Cegonha, tivemos a oportunidade de parar e dar às plantas o tempo necessário e a atenção devida para que estas nos possam mostrar parte do que são. Às vezes o caminhar não se conta pelos quilómetros percorridos mas pelo tempo que se parou pelo caminho! Em Fevereiro continuaremos, por terrenos mais arenosos, confirmem a vossa presença em baixo ou por email.

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