Com 1001 pontos discutíveis, já todos sabemos que estes têm e terão consequências ambientais. Altera-se a natureza, manipula-se a harmonia dos ecossistemas e há quem os associe ao aquecimento global e às alterações climatéricas.
Mais evidente são ainda as consequências, para aqueles que trabalharam uma vida inteira para ter um lar e, agora, vêm tudo calcinado, arrasado, destruído e irrecuperável.
Contudo, o problema menos evidente, com consequências muito lentas mas igualmente irreparáveis e duradouras, prende-se com os produtos originados destes cauterizantes incêndios. Parece difícil, mas deixo um exemplo muito fácil para o explicar: Pensem, por exemplo, no menu do natal; por regra, quase todos nós gostamos de um bom assado! Eu, pessoalmente, gosto dele “no ponto” e algo tostadinho. Mas se “nos passamos” deste ponto, ele é impossível de digerir e reveste-se de um sabor que consideramos intragável. Isso é o nosso corpo a defender-se, porque toda aquela matéria, antes comestível, sofreu reações químicas de tal ordem que se originaram moléculas tóxicas, entre elas, algumas até cancerígenas e por isso o seu sabor, odor e aspeto repele-nos.
Isto não surge porque me entusiasmei na leitura de um artigo, mas antes pela junção de vários, em anos de dedicação, preocupação e verdadeiro estudo, que felizmente agora começa a ser reconhecido.
Muito para além da toxicidade dos fumos, que vai afetando combatentes e população, no final dos incêndios ocorre exatamente a mesma coisa. Quanto mais vastos, intensos, abrangentes e numerosos mais se verá afetada a população e as componentes dos ecossistemas que a rodeia. Começam a cair algumas chuvas e com estas arrastam-se cinzas e muitos outros produtos invisíveis a olho nu, que contaminam os cursos de água, os lençóis freáticos. Estes assimilam-se irrefletidamente pelo consumo humano, através dos produtos hortícolas, piscícolas e animais, que têm influenciados de forma saturada os seus húmus, alimento e pasto e num ápice tais vão-se transmitindo, já que ao parecer, todas as cadeias acabam alteradas.
Uma das preocupações de saúde, ainda durante os incêndios, está relacionada com dois componentes altamente tóxicos designados de Monóxido de Carbono (CO) e Cianeto (CN), bem como a sua ação sinergística. Ambos são asfixiantes, o primeiro substitui, enganosamente no nosso corpo, as moléculas de oxigénio e o segundo impede a respiração celular (mais concretamente a respiração mitocondrial e a fosforilação oxidativa). Ambos provêm de combustões incompletas (braseiros) que podem ser simplesmente de um pedaço de madeira ou de uma fibra de nylon.
De uma forma geral, uma vez completamente extinto o incêndio, o CO volatiza-se, mas o CN pode permanecer bem entranhado e por um período de tempo considerável. Na verdade, não é de estranhar, já que o cianeto é fácil e vulgarmente encontrado na natureza – embora sejam quantidades ínfimas – é produzido pelo nosso corpo e pela exalação, por bactérias, algas, fungos, numerosas espécies de plantas (incluindo feijões), frutas (sementes e alguns caroços como maçã, cereja, alperce, pêssego e ameixa), frutos secos, vegetais (da família da couve), grãos (alfafa e sorgo) e raízes (mandioca, rabanete e nabo), trevos brancos e rebentos de bambu. Assim a combustão incompleta durante os incêndios florestais é considerada uma importante fonte ambiental de cianeto.
Ontem, 29 de agosto de 2017, na fronteiriça localidade de Verin, desde a manhã até ao início da tarde, a população ficou sem água potável. Tudo isto devido à grande quantidade de material calcinado arrastado pelas chuvas até ao rio Tâmega, oriundo dos recentes incêndios florestais.