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ABRIL

“Abril, tempo de cuco, de manhã molhado e à tarde enxuto.”

O Sol dividiu os dias com a Chuva no final de Março, entre eles comprometeram-se a deixar metade do dia para o outro intervir mas apesar do ditado popular que escolhemos este mês, o Sol agora insiste em ficar para dar tempo para atendermos às mil tarefas de Abril!

 

Quem passa tempo ao ar livre, seja na horta, no quintal, no bosque ou no parque sabe o quão rápido o verde se transforma em altura: ontem este trevo fazia-me cócegas nos pés, hoje já me chega aos joelhos!  Tudo cresce a uma velocidade estonteante, de um dia para o outro as surpresas desdobraçam-nos e aguçam a nossa curiosidade, quase como um truque que as plantas descobriram para nos fazer mexer e aprender com elas.

 

O mês de Abril é o mês de aprire ou abrir, da mesma raíz de aperitivo, e há realmente em Abril qualquer coisa que nos abre o apetite para vivermos intensamente o que está lá fora e se transforma a cada instante... Num piscar de olhos a flores viram ervilhas, os cardos começam a fazer subir o caule que quer ser flor, os espargos começam a espreitar pela terra, todos com a curiosidade de saber o que se passa, de querer abrir neste despertar da curiosidade.

 

É uma altura de criatividade esta em que vivemos, é agora que nos reflectimos nesse desejo de sermos árvore em crescimento com um fluxo interno de seiva que não pára de nos espantar. Como é possível que esta vida desperte tanto em nós? Até o som do cuco que já se sente é um estímulo para a imaginação: ora aparece, ora desaparece, ora aparece... Neste Abril esperamos que consigam sentir a curiosidade na pele, que sintam que este jogo é mais um passo da dança do enamoramento contínuo pelos ciclos da natureza.

 

"Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos"

 

Paulo Freire

 

Plantas que se fazem Ouvir

 

Tentamos sempre falar mais das plantas espontâneas do que das cultivadas, mas todas elas pertencem a um habitat selvagem que as viu adaptar e crescer como espécies e a verdade é que onde quer que esse habitat seja elas ainda lá estarão, é nesse local que se sentem nativas. Aqui no norte de Portugal temos um clima mais temperados que mediterrânico, mas os jardins acolhem o calor das pedras quentes e dos aromas do Mediterrâneo e este mês há uma presença especial a quem não podia deixar de ser prestada as homenagens.

 

As Labiadas

 

Existe uma família botânica que sempre quisemos ter por perto como ser humanos. É uma família que tem uma grande afinidade pela nossa culinária e saúde já que é a família com o maior número de espécie de alto conteúdo de óleo essênciais de todas as famílias botânicas. É a família das Labiadas, chama-se assim pela disposição das petálas que nos fazem lembrar uns lábios já que as petálas se fundem em lábio superior e inferior e se juntam na base em forma de funil, quase como uma garganta.

Os membros desta família são mais que 7000 e vão desde o Alecrim, às Mentas, , às Cidreiras, aos Tomilhos, aos Oregãos, às Salvas e muitos mais...

 

A Velhinha que nos Salva

 

O seu nome é Salvia officinalis e muita gente a conhece como Salva, a que nos salva... No entanto em inglês o nome comum desta planta é Sage que é o nome que se dá a uma pessoa extremamente sábia ou conhecedora, em grego é φασκομηλιά - faskomiliá - que nos indica a ligação aos cueiros de recém-nascidos, os panos que envolvem o bébe e o acalmam. Qualquer dos nomes comuns colocam esta planta num patamar acima do daninho e quando começamos a observar com olhos atentos a forma como esta planta se mostra apercebemo-nos que ela tem traços do conforto de avó...

 

As folhas são aveludadas mas rugosas quase como a pele envelhecida que é seca mas com a suavidade de degraus de pedra gastos pelo tempo. Quando ingeridas fazem-nos lembrar a asperesa de uma irritação da garganta que é uma assinatura da lei das semelhanças que é difícil evitar: esta planta é infalível na resolução de inflamações da garganta.

Mas afinal qual é o significado desta planta nos parecer velhinha ou sabedora? E porque é que a partilhamos nesta época pascal? Existe um ditado chinês que viajou pela Pérsia até à Europa que nos pergunta:  Como pode um homem envelhecer se tem Salva no seu jardim?

 

A verdade é que grande parte das propriedades da Salvia officinalis são a resolução de patologias ligadas ao envelhecimento como a queda de cabelo e dentes, o cansaço ou degeneração neurológica, o esquecimento e alguns sintomas da menopausa. Começamos a perceber que afinal pode mesmo haver aqui uma ligação entre a aparência externa e o que ela esconde bem dentro de si, que tão abertamente está disposta a partilhar connosco. Em qualquer das aplicações a melhor altura para colhermos esta planta é durante o pico de calor do dia e quando as flores não estiverem ainda todas abertas, porque queremos colher a máxima concentração de constituíntes ainda nas folhas.

 

Para branquear os dentes e ajudar a prevenir infecções bacterianas podemos usar uma folha no dedo indicador e esfregar os dentes com a frente da folha, é umas escova de dentes perfeita. Para os dentes que teimam a ficar soltos a Salvia officinalis pode ser usada seca, depois moída pode ser adicionada à pasta de dentes que usem, de perferência natural, ou usada como uma pós-lavagem onde se escova só com o pó de Salva.

 

Para a queda de cabelo usa-se uma infusão forte, 2 colheres de sobremesa de planta seca por cada 250ml de água, e depois de coado aplica-se ao cabelo como solução de lavagem no final do banho. Pode-se também macerar a Salva em óleo durante um ciclo lunar, de preferência com a Lua em Carneiro ou com alguma conjunção com Marte, já que promove a energia na zona da cabeça, o próximo período perfeito é já no dia 24 e 25 de Abril. Este óleo pode ser massajado no couro cabeludo à noite ou como máscara umas horas antes de tomar-mos banho.

 

Para desequilibrios do sistema nervoso como um simples tique de agitar constante de pernas, ou pessoas que não conseguem parar, que têm demasiado afazeres e não conseguem dizer que não. As suas propriedades nervinas não funcionam exactamente como sedativos como a valeriana ou a flor do maracujá que nos acalmam ao ponto de adormecer mas é mais como um tónico do sistema nervoso indicado para aqueles que de alguma forma estão quase a "rebentar" de nervoso e precisam de voltar ao equilíbrio. Nestes casos podem ser usada a planta fresca em culinária com frequência, como também a infusão, tintura e  também o óleo macerado de Salva e Hipericum perforatum massajado ao longo da coluna vertebral todos os dias.

 

Em estudos clínicos a Salvia foi mostrada como bastante eficiente para melhorar a retenção de memória em ambos os pacientes de Alzheimer como em estudantes universitários, no entanto não deve ser usada por longos períodos de tempo devido ao elevado teor de tujona que pode acumular no corpo. O ideal será usar durante 3 semanas e parar 2 semanas para deixar o corpo se equilibrar por si só, não queremos causar dependências no corpo mas sim lembrá-lo de como costumava funcionar até não precisar mais de nenhuma ajuda.

 

A Salva contem bastante fito-estrógenio que é o estrogénio presente em várias leguminosas, sementes e plantas medicinais e que é similar à hormona de estrogénio produzida pelo corpo. Durante a menopausa  existe um declínio na produção desta hormona feminina que é o que provoca os ditos afrontamentos ou calores, palpitações, suores nocturnos, fatiga, insónias e muitos outros sintomas. Nestes casos a Salvia officinalis ajuda a normalizar o estrogénio quase como uma terapia de substituição mas de uma forma mais equilibrada e natural. Em casos de endometriose, fibromioma ou quisto nos ovários o uso desta planta não é aconselhável devido à dependência estrógenica que estas patologias demonstram.

 

Mulheres grávidas não devem consumir esta planta  pois pode estimular o útero e causar um aborto ou parto permaturo, mulheres a amamentar têm de ter em conta que a Salvia pode secar o leitar materno, por isso se quiserem continuar a dar de mamar não devem consumir Salvia em quantidades exageras salvo o pontual uso como aromática na culinária.

 

As flores das várias sub-espécies da Salvia officinalis já começaram a abrir bem no alto tal como pequenas bandeiras coloridas da cor púrpura desta época. Chamam a atenção das abelhas que por aqui passam e é impossível ficar-lhes indiferente. Como era comum ainda no século 19 o nascimento do Sol era experienciado no domingo de Páscoa para sentirmos o renascer dentro de nós, é com esse brilho de sol que a Salva ajuda a iluminar a nossa criança interior e faz-nos acreditar que somos imortais.

Ideias e Sugestões

Recuperação da Escola do Vilarinho

em Vila Praia de Âncora

Acreditamos que a vida em si é uma escola, mas também que há espaços que podem ser pontos de encontro onde se enraíza o crescimento. A vontade é que este local possa vir a ser um centro de cooperação, que inspire vida à comunidade do Vale do Âncora,

para que todos possam aprender e ensinar.

A proposta já passou na primeira fase do Orçamento Participativo de Caminha e gostávamos de vos convidar a fazer deste sonho um dia-a-dia cheio de aprendizagens, o próximo encontro é já dia 17 de Abril!

 
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Mesa Redonda: Recursos do Sistema Agro-florestal do Minho,

entre a Tradição e a Alternativa

No dia 25 de Abril vamos fazer parte da Mesa Redonda que vai acontecer no Paço de Lanheses às 15h00. Este dia que marcou a nossa história como país vai juntar pessoas com visões e experiências diferentes para podermos chegar a soluções criativas que possam valorizar o património natural e a relação de co-existência que nós temos com ele.

Caminhar os Sentidos . As Pedras que Contam Histórias

No primeiro fim-de-semana de Abril fizemos um caminho em Freixieiro de Soutelo, e como nos deparamos com o Vale do Âncora e a encosta virada a norte conseguimos ver a quantidade de Tónicos de Primavera que se mostram nesta altura.

 

No final deste mês iremos usar o mesmo trilho mas de forma mais prolongada, onde teremos tempo para ser como as pedras e aprender a fazer parte sem intervir.  Esta actividade acontecerá por donativo consciente, cada um dá aquilo que sentir!

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