. BLOOM SATIVUM . JANEIRO |
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"Depois do Menino nascer, é tudo a crescer." |
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Estes últimos meses que ficaram por se escrever foram meses de introspecção. Parecia que estava tudo estagnado e de repente... Numa caminhada de Solstício de Inverno, ao despedir-me do Sol deparei-me com uma hera - Hedera helix - a frutificar. Já tinha visto várias neste estado, mas neste dia e àquela hora, foi diferente: Esta Hera alastrava-se, cobria tudo num manto protector que como água verde-escura se infiltrava, quase como se água tivesse aprendido a desafiar as leis da gravidade. Nesta altura do ano, em que poucos se mostram, a Hera tem a audácia de se desdobrar em flores que nutrem, em frutos que festejam como se de fogo de artifício se tratassem. Foi para este lugar de festejo inesperado que a Hera me transportou: 2017 já chegou mesmo ao fim! Foi um ano de confrontos, um ano de labaredas, um ano que lhe custou a chamar a chuva. Que no meio das cinzas lavou, pelo contraste da ausência da brancura. Foi um ano marcado pelos desejos que se manifestaram mas de uma forma diferente da que previamos. Vontades tão fortes que por si mesmas nos puxaram para um rumo inesperado, que nos mostraram a sabedoria de sermos a coragem de um caos destemido. Estamos cada vez mais iguais a nós mesmos, com mais ou menos cicatrizes. Seguimos em frente confiantes do que é compor a nossa história, ou pelo menos abraçar a audácia de sabermos o que é estar disposto a florir fora do tempo. Somos todos Heras. Comprometemo-nos com a Vida. Precisamos destes dias de festejo intencional, da comemoração ritmica. Ao atirar as doze passas ao ar, de boca aberta para receber cada uma, focamo-nos apressados em todas as resoluções. A intenção posta em cada uma transformará as uvas agora secas num fruto suculento. Como natureza temos a necessidade de nos sentirmos parte destes ciclos que se iniciam, se concluem e que se voltam a iniciar... Assistimos ao renascimento do Sol que nos alonga agora os dias, ouvimos que tinha nascido um Menino lá ao longe e agora está na altura de nós próprios recomeçarmos. . A todas as Heras que nos lembram que o que era faz sempre parte do que é. Há o novo sim, mas esse aprendeu com o velho a ser novidade. Aqui fica um grande agradecimento a todos os que de forma directa ou indirecta nos inspiram neste novo ciclo: Um Bom Ano Novo! "Luz do sol, que a folha traga e traduz, Em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz." Caetano Veloso |
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Plantas que se fazem Ouvir |
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A chuva teimou em vir mas finalmente chegou. Os recantos pintam-se de verde-vivo como se fossem as prórias pegadas da chuva. Naqueles sítios sombrios, em solos ricos, ferrosos ou azotados, estas plantas escolhem despontar e são reconhecidas por qualquer leigo. São duma espécie que nos ensina por experiência própria. Temos que as tocar para as conhecer e depois, nunca mais nos esquecemos delas. Uma professora devota, duma forma de aprendizagem que devemos valorizar mais: o aprender experimentando. |
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O fio que nos alimenta! Urtica spp. Existem várias subespécies de Urtigas mas as mais comuns em Portugal são: Urtica dioica, Urtica urens e Urtica membranaceae - a que aparece aqui nas fotografias. Apesar de ser uma planta bastante comum, é das nossas espécies espontâneas com mais qualidades e que devem ser vistas como as nossas maiores aliadas. Elas são alimento, promotoras de saúde, nossa e das plantas, repelente, fibra que nos agasalha, corda, papel, colorante, abono para as culturas... Nesta altura do ano as Urtigas ainda estão bem tenrinhas, mas à medida que se caminha para o calor o caule torna-se cada vez mais fibroso. Esta fibra é mais resistente que o algodão e foram descobertos tecidos feitos de Urtiga em escavações arqueológicas junto a artefactos que se estimam ter mais de 5.000 anos, é bem possível que tenha sido das primeiras fibras a serem processadas por nós humanos.
Para além de poderem ser material que nos agasalha e nos permite criar cestos e outros utensílios necessários, as Urtigas têm uma afinidade tão grande com o nosso organismo que lhes permite nutrir-nos profundamente. Toda a sua riqueza em proteínas, ferro, cálcio e potássio é mais biodisponível para nós humanos que a maioria das plantas e por isso devemos acolhe-las como um vegetal comum na nossa alimentação. Podemos cozinhá-las como os espinafres, simplesmente vaporizá-las e adicionar um bocadinho de azeite e sumo de limão. Juntá-la a sopas, patés, lasanhas ou qualquer outro prato que mereça um bom suplemento verde e bem saboroso. No entanto existe uma forma de preparação que pode aglomerar e aumentar o seu potencial. Chama-se coalhada de folhas e é um alimento sólido produzido a partir de coalho proteico coagulado de folhas de urtiga ou outra planta rica em proteína vegetal como a Luzerna - Medicago sativa - ou o Catassol - Chenopodium album. Depois de colhermos umas 800 gramas de Urtigas devemos liquidificá-las com a varinha mágica ou outro processador alimentar. Juntamos um copo de água e processamos em pequenas quantidades até termos toda a colheita num estado liquído verdejante. Depois com uma gaze ou musselina esprememos todo o liquido para uma taça por baixo para recolher o liquido, no fim ficamos com a polpa, a maioria será fibra da planta que pode ser usada para experiências como fazer papel de urtiga. Levamos este sumo de Urtigas ao lume para ferver, até vermos que forma um coalho na superfície. Depois só temos que voltar a coar e espremer bem. No final ficamos com umas 100 gramas de uma coisa semelhante a um tofu de urtiga, um pouco mais esfarelento que o tofu mas que pode ser usado da mesma forma. Apesar do processo ser um bocadinho laborioso torna disponível a proteína presentes nas folhas que, de outra forma, seriam muito volumosas em fibra para ter um valor nutricional significativo. Aqui fica também outra receita com Urtigas que já tinhamos partilhado há alguns anos no nosso blog: http://bloomsativum.wixsite.com/bloom-sativum/single-post/2015/03/11/MASSA-FRESCA-DE-URTIGAS |
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O que nos pica, dá-nos alento! A razão porque a maioria de nós se lembra das Urtigas é pela sensação comichosa com que ficamos quando a conhecemos. As espécies de urtigas aqui referidas apresentam células modificadas que se projectam como finas agulhas. Estas superfícies pilosas são chamados de tricomas e são barreiras altamente especializadas em manter qualquer herbívoro faminto a milhas. Estas agulhas de vidro, são basicamente formadas por silicatos. semelhante ao vidro, dentro delas está armazenada uma mistura de químicos como ácido fórmico, histamina, ácido oxálico, serotonina, entre outros... Na ponta de cada tricoma existe uma ampola desta mistura que quando entra em contacto com qualquer superfície é libertada e causa a "injecção" que provoca o que todos conhecemos como urticária. |
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Depois de estarmos muito tempo na mesma posição sem nos mexermos temos tendência a sentir dormência na parte do corpo que esteve restricta de movimento. Quando nos damos conta desse estado adormecido e fnalmente nos movimentamos tendemos a ficar com uma sensação desagradável a que tendemos a chamar de formigueiro. O que acontece nessas situações é que houve uma obstrução momentânea de fluxo sanguíneo ou uma restrição temporária de impulsos nervosos a uma área de nervos como acontece quando temos as ditas dores de cotovelo. No léxico popular todos achamos que o formigueiro é a palavra que melhor descreve aquela sensação de várias picadas simultâneas, não muito diferentes da sensação que as Urtigas nos causam. Isso é porque o ácido fórmico, que é libertado nas picadas de formigas e abelhas, está também presente nestas plantas. Esta propriedade rubefaciente das Urtigas provoca uma irritação tópica mas ao mesmo tempo promove também a circulação do sangue, quando necessário pode ser usada para estimular partes do corpo que estejam em estados deficientes ou a necessitar de desintoxicação. As Urtigas podem por isso ser infligidas topicamente de forma voluntária nos casos de gota, reumatismo e artrites, pois mobiliza a acumulação de resíduos que tendem a acumular nas articulações, tal como o ácido úrico no caso da gota. A linguagem das plantas é subtil, muito menos óbvia do que a nossa humana, mas ao começarmos a interiorizar a sua poesia percebemos que as mensagens se traduzem do micro para o macro com uma fluidez inesperada. As Urtigas têm uma pecularidade muito interessante, tal como nos mostra a nossa hiper sensibilidade ao seu toque, mostra-se ligada ao sistema nervoso autónomo ou visceral, aquele que é responsável pelas respostas reflexas, que nos permite ajustar a mudanças internas e externas para manter o equilíbrio do corpo. Neste momento maior parte de nós sofre de algum tipo de stress. Não é que estejamos sempre stressados, mas quando ao final do dia, à ida para casa numa fila que não anda nem desanda, aquele carro não pára de me buzinar, claro que fico stressada! São pequeninas coisas, que mais na cidade do que no campo, nos deixa agitados, em estado de alerta. Estamos constantemente a virar-nos para um registo do sistema nervoso simpático, aquele que nos pede para lutar ou fugir, que nos aumenta as púpilas, acelera os batimentos cardíacos, aumenta a pressão sanguínea... E não só existem estas reacções instantâneas como a sua constante ocorrência leva-nos a ficarmos com o metabolismo e o sistema imunitário deficiente, como resposta ficamos reactivos a alérgenos, tanto aos bolores e polens, como a comidas e poluentes ambientais. E é aqui, no dia-a dia actual, que entram as folhas frescas das Urtigas, usadas em infusão, pickles ou maceradas em tintura, para nos ensinar a mudar de registo. Lembram-nos que para além do sistema nervoso simpático, o que empatiza em demasia com o que está fora, existe um sistema nervoso parasimpático que nos ajuda a balançar o estado reaccionário do simpático e nos ordena a relaxarmos para não chegarmos ao estado de exaustão e cansaço a que o stress prolongado nos leva e que provoca reacções hipersensíveis como as alergias. O uso das Urtigas pode e deve ser continuado para se sentir os benefícios. Esperamos que as Urtigas vos ajudem a terem um 2018 bem relaxado! |
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11ª Edição do Guia Artesanal de Plantas Selvagens - ÚLTIMA EDIÇÃO - Há caminhos que se encerram para que outros se possam abrir. Resolvemos imprimiros últimos 125 exemplares do nosso Guia como forma de comemorarmos o final do ciclo e impulsionar novos projectos para este novo ano. Ao comprarem esta última edição revista do Guia estarão a financiar o projecto de propagação de espécies de interesse florestal e impulsionarão outras vontades que estão prontas para entrar em acção por parte da Bloom Sativum. Preencham o questionário - carregando no botão em baixo - até ao fim de Janeiro para vos enviarmos os vossos exemplares. | | |
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Grupo de Arte Terapia Mulheres que Correm com os Lobos 20 de Janeiro das 9h00 às 18h30 Azevedo, Caminha Propomos um trabalho lúdico que nos levará até um processo de auto-conhecimento profundo. Cada sessão tem por base um dos mágicos contos recolhidos e recriados no livro de Clarissa Picola Estés, “Mulheres que correm com Lobos”. | | |
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Um Domingo Diferente 21 de Janeiro das 14h00 às 19h00 Areosa, Viana do Castelo Caminhada de Interpretação da Flora Espontânea n'O Espaço- Horta Comunitária e de seguida iremos até à sede do SIRSA para uma tarde de Danças Circulares Sagradas com a Ana Paula Gomes. Ponto de Encontro: às 14h00 no Parque de Estacionamento do Intermarché da Areosa para a caminhada ou às 16h00 no SIRSA - Sociedade de Instrução, Recreio e Social Areosense para as danças | | |
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Vestígio 26 de Janeiro às 21h30 Teatro Diogo Bernardes, Ponte de Lima O espectáculo é uma viagem a Trás-os-Montes através da obra de Georges Dussaud. Um percurso que vive do seu olhar, das suas memórias, da forma como regista pessoas, paisagens, sensações e lhes dá corpo através da sua forma de fixar o instante, guardando-o suspenso no tempo. | | |
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