“Março liga a noite com o dia, o Manuel com a Maria, o pão com o mato e a erva com o sargaço.” |
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Há imagens que falam por si, mas as tantas histórias que cada imagem esconde só são libertadas pelos muitos que as veêm ou sentem... Enquanto tirava esta fotografia senti um zumbir descontrolado que não era só o da abelha, ao sentir o cheiro das flores desta ameixieira uma energia frenética entrou em mim e a câmara abanava tal como as irrequietas asas da abelha. A fotografia acabou por ser tirada no meio de tantos tremeliques e captou exactamente o que sinto quando por esta época passeio pelos jardins e pelos bosques: estamos quase na Primavera! Estamos já em Março, um mês onde a surpresa é que dita o quotidiano. É nesta altura que o verde-escuro se lembra dos tantos tons que pode ser, e se reinventa nas muitas folhas, pétalas e cheiros. É também nesta altura que cresce em nós o zumbido da criatividade, como é possível ficarmos indiferentes a tantas inspirações? Ontem os Fetos, os Salgueiros, as Avelaneiras, os Castanheiros, os Carvalhos, as Roseiras, os Lúpulos entre muitos outros mostraram-nos as suas primeiras folhas. Hoje as Prímulas, as Violetas, as Ameixieiras, os Alperces, os Sabugueiros, as Salsas-dos-Cavalos e os Dentes-de-Leão estão em flor e amanhã havemos de ser encantados seja com o que for. Cada dia tem um gosto especial e o chamamento da novidade convida-nos a caminhar por entre o verde, tal como criança cheia de curiosidade por tudo o que está vivo passamos a ser o som das rãs que já cantam.
Tal como o ditado popular em cima anúncia é neste mês de Marte, entre o dia 20 e 24 de Março, que o dia e a noite se voltarão a encontrar como iguais no Equinócio de Primavera. Astrologicamente é o recomeço do novo ciclo solar no fogo de Carneiro, mas antes dessa força direccionada para a realização temos o feminino da água de Peixes a ensinar-nos a gentileza do sentir o que somos nas profundezas. O Manuel e a Maria, ou o Sol e a Lua encontram-se para deixar o equilílibrio florescer, os cereais que nos darão farinha para o pão são lançados à Terra e o sargaço é usado para fertilizar os campos. Tamanho ensinamento em forma de ditado de autor anónimo, nada nos dá tanto prazer de ler e de passar ao próximo como os provérbios, a cultura que respira no passar ao outro, que está viva como a Primavera. O ano passado partilhamos um webinar neste mês e deixamos aqui o link para se sentirem vontade de saber mais sobre o Equilibrio do Equinócio: youtube.com/watch?v=bxOrs2EIl1o "Aprendi com as Primaveras, a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira. " Cecília Meireles |
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Plantas que se fazem Ouvir É dificil perceber o que quer ter voz nesta época, está tudo em tamanha euforia que nem dá para nos concentrarmos só numa coisa. O trabalho de escolher uma por entre as tantas mãos que se estendem no ar para pedir palavra nunca é fácil, e os olhos como por respeito e reconhecimento param em todos os outros olhos das mãos que ficaram por escolher, o seu tempo virá também. O tempo é das famílias, custa escolher uma só espécie e quando se abrange um número considerável de membros parece que o apego relacional acaba por nos envolver numa atmosfera de familiaridade que todos nós conhecemos e torna a escolha mais leve e a observação mais fácil, pois os padrões vulgarmente repetem-se. |
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As Muitas Rosas que Florescem O mês passado foi a família das Asteraceas que nos chamou a atenção, agora neste mês mais movimentado é a família das rosas que não se deixa passar despercebida, andam a dar sinais de vida por todo o lado: são as Roseiras, as Silvas, as Ameixieiras, as Framboeseiras, os Morangueiros, as Ulmárias, as Potentilhas, as Amendoeiras e os Pessegueiros... Entre flores e folhas são sem dúvida as grandes vedetas dos dias, dos narizes e dos olhos. Tal como todos os membros das Asteraceas tem pontos em comum que as une como família o mesmo se passa com as Rosaceas, as sépalas e pétalas apresentam-se sempre em conjuntos de 5 e as folhas são maioritariamente ovais de margens serradas, como os dentes de um serrote, que normalmente se arranjam de forma oposta e em números ímpares. |
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Existe um fascínio pelas rosas, qualquer jardineiro, amador ou não, sente um orgulho imenso nas suas roseiras. As exuberantes rosas que hoje conhecemos são resultado de uma selecção prolongada ou hibridização em que os estames viraram as muitas pétalas. No entanto, as roseiras silvestres como a Rosa canina, que se encontra na margem dos bosques, ou a Rosa rugosa, que escolhe as dunas como casa, são mais verdadeiras no seu registo familiar, estas só têm 5 pétalas e 5 sépalas, tal como as flores das Framboesas ou das Silvas, e tal como estas apresentam-se vestidas de espinhos nos caules. O observar das plantas e as suas assinaturas ao longo do ano ensina-nos muito sobre as suas tendências e capacidades. Tal como no processo de diagnóstico nos humanos onde os olhos, a tez, as unhas, a língua e muitos outros factores são considerados para se ter uma visão global das muitas manifestações da pessoa. |
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Quando era pequena tive uma má experiência com as rosas, ao cair num roseiral em casa da minha avó paterna acabei por ficar cheia de picos nas pernas e desde aí tive sempre uma pequena aversão a esta planta, até nos sonhos ela me aparecia! Ao longo dos anos essa aversão tem-se tranformado num enamoramento, os picos ensinam que quando alguém se pica ou se fere é só um pretexto para o amor se desenvolver no cuidar do ferimento próprio ou dos outros. Vamos falar nestas três em especial, as três com espinhos: As Rosas - Rosa spp. aqui não são consideradas as variedades de jardim mas as silvestres , as Silvas - Rubus fruticosus e as Framboeseiras - Rubus idaeus. Destas três nenhuma está ainda em flor mas já mostram o seu crescimento vegetativo através da folhagem e ter o privilégio de assistir a algo tão corajoso e suave é sem dúvida uma dádiva. As tenras folhas mostram-se ao poucos, quase como um desabrochar de flor, a aspereza dos picos torna-se suavidade nas folhas e mostra-nos o quanto podemos nos enganar quando entramos em julgamentos ou ideias pré-concebidas. Os picos ou espinhos ferem, mas as folhas das três espécies tão ricas em taninos sabem o que fazer no caso de golpes ou prefurações pois incentivam as células traumatizadas a contraírem e a se juntarem de novo. As três têm uma afinidade muito grande com a circulação ou o sangue, no entanto cada uma é bastante especifica sobre que área da circulação quer tratar. As Rosas - Rosa spp. são espécies que sempre foram usadas pela sua beleza, cheiro e capacidade de tonificar áreas inflamadas ou o sangue em si. A água de rosas ou o hidrosol das pétalas de rosa é também um conhecido cosmético com proriedades medicinais que foi usado ao longo dos séculos, e pode facilmente ser feito em casa com a infusão das pétalas secas em água quente mas não a escaldar num recipiente fechado, como por exemplo um frasco. Pelo seu poder calmante e regenador foi sempre um recurso infalível em situações como inflamações de pele, queimaduras solares, acne, inflamações oculares e até regeneração de varizes e rugas, igualmente o seu aroma acalma qualquer tentativa de padrão de nervosismo ou stress que se queira instalar. As pétalas de rosa são suaves ao toque e parece que têm uma afinidade com a pele humana, uma atracção quase magnética. No caso das rosas silvestres muitas delas apresentam as suas 5 pétalas em forma de coração e o fruto das roseiras é indiscutívelmente semelhante a um pequeno coração que se oferece sem nada a temer no final da floração. Existe uma meditação muito curativa que se baseia na visualização do abrir da rosa no nosso coração. Esquecemo-nos que temos braços, pernas, olhos e tentamos ser só coração e flor que se abre em nós, como no seu ciclo natural é polinizada e no final da meditação a rosa fica em nós como o bater do nosso coração. Em 10 minutos diários conseguimos desenvolver um sentimento de apreciação e confiança com tudo e todos que nos rodeiam. As Silvas são um tormento para quem as recebe nos seus jardins ou terrenos, mas cada vez mais temos apreciado a sua praticalidade e potência medicinal. É um hemoestático de categoria, ou seja, estanca hemorragias, a infusão das raízes, cascas dos ramos, brotos ou folhas é uma valiosa solução na cura de gengivas sangrentas, sangramentos do nariz, diarreias e hemorróides. A essência floral na nossa experiência funciona com a incapacidade do indivíduo de expressar abertamente, daí as silvas serem tão incompreendidas. Emaranham-se por entre a escuridão de si mesmas, são tímidas e carecem de uma boa imagem própria e do seu poder pessoal, daí a terem que se agarrar a outras plantas para chegar até à luz. Ajuda-nos a libertar a raiva ou medos de sermos nós próprios por isso é que medicinalmente se conectam com as extremidades visíveis que ingerem comida ou ar e excretam o que não nos é útil. As Framboeseiras são menos agressivas que as Silvas e são muito apreciadas pelo seu fruto tão suave e de saboroso, porém a sua capacidade medicinal acentua-se nas suas folhas. É uma planta com uma afinidade enorme pelo aparelho reprodutor feminino e quando a infusão das suas folhas é tomada por mulheres em período mestrual pois acalma as cólicas, o temperamento e possíveis excessos de perda de sangue. É também um tónico uterino nutritivo que pode ser ingerido ao longo da gravidez ou só nos últimos 3 meses de gravidez, para além de aliviar as possíveis naúseas de início de gravidez, o efeito adstringente e estimulante ajuda a tonificar os músculos do útero e da região pélvica, enquanto as propriedades relaxantes e mais calmantes ajudam o útero a relaxar. A essência floral trabalha a generosidade e compaixão, o nosso lado maternal que cuida e tem sempre uma palavra carinhosa a partilhar, ensina-nos a não levar nada demasiado a peito e deixar o sentimento de julgamento de lado. Do local onde vem a criação só o carinho e cuidado pode despontar. |
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Oficina de Poda e Enxertia de Fruteiras No próximo sábado, dia 11 de Março, o Núcleo de AgroEcologia do Campo do Gerês vai organizar um dia dedicado à multiplicação da variedade de fruteiras, ao cuidar atento e à importância das variedades tradicionais da nossa região. É um evento gratuíto que com certeza não vão querer perder! | | |
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Nestas últimas semanas tivemos a visita de uma amiga de Inglaterra, a Nairme é uma mulher de muitos ofícios, com ela recolhemos algumas espécies de salgueiro ou vimeiros (Salix spp) que podem ser usadas em cestaria e que geralmente são usados para atar as vinhas nesta época de podas. Entrançamos cestos e ficámos ainda com mais vontade de trabalhar com fibras naturais autóctones e de aprender com os artesãos que já o fazem há muito. Porque gostamos de partilhar o que nos inspira aqui fica um pequeno documentário que demostra o espaço intemporal de quem faz cestaria. Agradecemos-te Nairme pelo tanto que deste de ti nesta tua passagem por cá! | | |
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Caminhar os Sentidos . As Pedras que Contam Histórias |
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Em Fevereiro, no lado dunar de Afife, tivemos a sorte do Sol por entre as nuvens e pudémos ver as diferenças entre terrenos arenosos e outros cuidados com sargaço e estrume. Vimos a forma como as espécies se adequam ao terreno que escolhem e como acabam por se reinventar segundo as necessidades! Neste mês de marcha e movimento, o corpo vai parar para observar o que o mundo natural nos pode mostrar quando aceitamos a quietude. Os sentidos dirão aonde ir e levar-nos-ão até histórias que viverão connosco e que com certeza quereremos partilhar. |
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