. BLOOM SATIVUM .

   AGOSTO   

"Em Agosto toda a fruta tem seu gosto."

Freixiero de Soutelo, 26 de Agosto de 2017

 

 

Querido Agosto,

 

Já vimos as maçãs agrais que deixaste cair no chão, as amoras que já nos pintam os lábios, as bolotas que apesar de ainda estarem verdes, engordaram com os teus dons e caiem com o sopro do vento. Já colhemos as sementes que amadureceste com o teu Sol quente, nos vários pacotinhos de papel pardo já se lê: alfafa, calêndula, feijão preto, feijão vaquinha, feijão de 7 anos, feijão de trepar vermelho, feijão de trepar roxo, girassóis, endívias, alface manteiga recortada e a lista continua a crescer... Os cestos vão recebendo as várias plantas medicinais, o desidratador está cheio de bagas de pilriteiro, de sabugueiro, de espinheiro-marítimo. As frutas afinal são as jóias que te cobrem em dias de festa...

 

Já cá chegou a nostalgia dos teus pontos terminais. As noites mais húmidas que nos entram pelas janelas adentro, as manhãs de orvalho que se mostram e anúnciam que, apesar dos dias quentes, o Outono não anda longe...

 

Agosto, tu que te mostras em incêndios, numa Terra que se desertifica pelos maus tratos ao longo de séculos, estaás a querer reflectir esta Mãe cansada mas mesmo assim com energia para nos alimentar? Sim, é Ela quem nos ensina a estar no momento presente, a cheirar, a agradecer antes de saborear os frutos, a semear e aprender, a colher e ensinar... É aquela que nos ensina a sua dança como se fora o batimento do coração que sempre sentimos no seu ventre e que nos embala nas Estações com a naturalidade de quem cresce na imitação do que Ela é. A sua cara enrugada pelos teus sóis diz-nos que podemos até ter saído de casa dos nosso pais, podemos até ter alcançado uma boa carreira mas o nosso lar não nos pertence porque ainda é a Terra e quem nos prepara o jantar ao final do dia ainda é a Terra.

 

Agradecemos-te Agosto porque nos fazes ver que como humanos temos tendência para nos fascinarmos pelo que é quase inatíngivel e deixamos o que está mais próximo na categoria de desinteressante. O Elemento Terra é assim esquecido mas mostra-nos o que é ser paciente no esperar, o que é ser persistentemente o solo de tudo o que aqui está. Mesmo que se sinta agora pisada Ela ainda se lembra o que é ser levemente tocada e pede-nos que o façamos, que sejamos como as gotas de orvalho que voltam a tocar-lhe bem devagarinho...

 

No teu desfecho escolhes ser o mês em que o Sol passa pela constelação da Virgem, que não se mostra só nas análise detalhada, ou na capacidade de organização quase compulsiva que se associa a este signo. A constelação da Virgem atarefada é quem tem que estar pronta para trabalhar para que nada falte o resto do ano, a colectora-mãe e organizadora das colheitas, que mesmo em dias quentes tem de estar à volta da panela no fogão a lenha a tratar das conservas... Através dela vemos a importância da família, da comunidade, das colheitas que nos pedem para trabalhar em equipa para colher o que tu amadureces. É o termos a certeza de que vai haver suficiente para todos, o que é estar ao serviço dos outros porque no final estamos a tratar de nós mesmos. Esta é a Virgem que é vista como a escrivã, a monge copista, a que guarda a informação detalhada sobre as sementeiras, as colheitas e tudo o que se relaciona com comida, nutrição e a saúde em geral. A companhia do Leão sonolento acabou por ser cansativa e por isso decidiste chamar a Virgem, a herbalista que põe as mãos ao trabalho, te organiza o apotecário para que nada falte nas estações escuras e frias, quando estamos mais vulneráveis.

 

Trazes contigo anúncios de vento, de folhas que se secam e caem, mas também o nervoso miúdinho do voltar à escola. É agora que tudo o que aprendemos nas colheitas deverá ser passado e melhorado nas mãos dos muitos que aprendem e daqui a nove meses perceberemos o quanto aprendemos juntos nos frutos que se irão formar nas flores de Maio. Agosto, será que é desta que vamos aprender o que tanto teimas em nos ensinar?

 

 

Na sombra de um dia de Agosto, um homem sábio sorri enquanto abre uma maçã e diz:

" Podemos contar quantas sementes estão na maçã, mas nunca quantas maçãs estão na semente."

 

Plantas que se fazem Ouvir

 

Durante a noite embala-nos uma sinfonia de frutos que se percipitam das árvores até ao chão. São as bolotas verdes já bem pesadas, mas acima de tudo são aquelas frutas secas mais redondinhas e já castanhas que se fazem notar pelo acto de coragem de sairem debaixo das saias da sua mãe, mesmo que ainda estejam debaixo da sua protecção estão agora liberadas para ver o mundo de cá de baixo.

Corylus avellana - Aveleira ou Avelaneira

 

Quando mudamos de tenda e mochilas para o terreno onde vivemos, plantamos 4 Avelaneiras. Cresceram tão bem na sombra dos Carvalhos que logo percebemos que iam ser uma das nossas árvores de eleição. Desde essa altura já plantamos mais de 15 e agora até já germinam espontaneamente sem convite formal, devem saber que são bem recebidas por aqui...

 

No entanto, uma coisa mágica aconteceu este ano: ofereceram-nos a primeira grande colheita de avelãs!

Tal como se acredita que os celtas faziam, colhemos só aquelas que tocam o chão, para não desrespeitar-mos uma árvore que para eles era sagrada e que dava o nome a este mês. Também fomos tentar colher alguns frutos das árvores silvestres mas quando nos apercebemos da quantidade de cascas abertas no chão e do som dos pica-paus a abrirem os frutos, bem mais pequenos que as espécies cultivadas, percebemos que pelo esforço que fazem, eles merecem esses frutos bem mais que nós.

 

É considerada um arbusto alto ou uma árvore pequena e costumamos encontra-la em estado silvestre nas camadas entremédias dos bosques caducifólios onde habitam carvalhos e freixos. Tem a peculiaridade de desenvolver ramos desde a base como se tivesse sido aplicado o corte em talhadia mesma à nascença o que as tornam facilmente identificáveis. As suas folhas são semelhantes às do Amieiro (que é da mesma família das Betulaceae) só que no entanto as de Avelaneira são de maiores dimensões e suaves ao toque enquanto as outras têm uma textura polida e são mais quebradiças.

 

Cada árvore possui flores separadas de dois sexos que são bastante distintas: as masculinas são amentilhos verde-claro com cerca de 6 cms de comprimento que parecem pendurados nas árvores, as flores femininas são visíveis nos gomos florais escamosos onde espreitam os estiletes vermelhos/rosados. O balançar das flores masculinas dá-nos uma pista de que o seu agente polinizador é o vento e por isso a proximidade de várias árvores é aconselhada para uma boa polinização.

 

Os frutos, conhecidos por todos nós, têm a forma de pequenos globos ou são meios ovóides. Têm uma casca dura com uma só semente cada e a envolver o fruto, quase como se a escondê-lo, está uma cúpula fina como uma folha, que com as suas margens dentadas nos lembra uma saia de folhos.

A Árvore do Conhecimento

 

Mais uma vez, através da observação, podemo-nos dar conta de que a árvore em si tem algo que não quer revelar. O tronco singular parece estar enterrado no subsolo enquanto o que vemos é só mesmo os ramos, que se multiplicam de ano para ano e que a propósito são óptimos para servir de estacas para ervilhas e feijões.

 

Foi desde sempre a predilecta dos vedores, os ramos bifurcados das Avelaneiras eram usados como instrumento para detectar algo subterrâneo, que possa estar oculto ou escondido como veios de água, minerais e veios energéticos... Será que os ramos andam em busca do seu tronco encondido?

 

Era vista como uma expressão da energia do planeta Mercúrio, que era manifestado na mitologia grega como o aventuroso Hermes, o mensageiro dos deuses que possuia uma varinha mágica ou caduceu feita de Avelaneira. Esta árvore era associada à informação manifestada, à criação de novas ideias e à transformação. Os Celtas viam-na também como a árvore do conhecimento, da inspiração e da poesia, era comum comer-se os seus frutos antes de se iniciarem actividades divinatórias ou intuitivas.

Na Primavera os seus ramos são tão flexíveis que para além de se poderem usar para cestaria podem ser usados para dar nós sem que se partam e para formas de construção como o tabique. Os ramos são também cortados na base e através de uma combustão anaeróbica são transformados em carvão, um dos instrumentos básicos usado por artistas para desenhar. A Avelaneira está ligada à ordem dos bardos, é a protectora dos artistas da Europa antiga, os que estavam encarregados de dar vida às histórias, mitos e poemas que sobreviviam ao tempo dentro desta prática.

A infusão das folhas e casca dos ramos é rica em taninos e por isso mostra-se como um activo adstringente e cicatrizante que pode ajudar no caso de lavagens de feridas, diarreias, hemorróides e como tonificante arterial.

 

Os frutos são uma fonte nutricional incrível, contêm 60% de ácidos gordos essenciais, como ómega 6 e ómega 3. São também ricos em potássio, magnésio, fósforo, cobre e vitamina E.

(+ info)

As avelãs são também muito ricas em ácido fólico, hoje a ciência entende a razão porque eram desde sempre associadas à fertilidade, afinal não eram só as ideias que ela ajuda a gerar mas também promovia a concepção e gravidezes saudáveis. Como essência floral a Aveleira mostra-nos como nos podemos libertar do remoínho das expectativas, deixando-nos seguir uma criação mais fluída traz o nosso potencial criativo até à realização.

 

Antes de vos começarmos a escrever comemos uma avelã a ver se a inspiração vinha, apesar do planeta Mercúrio estar em movimento retrógado e isso ser sinal de dificuldades na comunicação achamos que pode ter realmente ajudado, é bom saber que as temos por perto!

Ideias e Sugestões

 

Monografias de Plantas Medicinais

3 de Setembro das 15h00 às 19h00

Freixieiro de Soutelo

 

Durante esta tarde vamos tomar tempo para observar, sentir e registar toda a informação sensorial que as plantas têm para nos oferecer, tanto aqui no nosso jardim como nos pequenos bosques que rodeiam o Rio Âncora. No final faremos uma compilação de todos os trabalhos e faremos uma pequena edição de autor muito especial da Materia Medica pessoal e local.

 

Limitado a 6 pessoas.

 
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Encontro pelas Florestas

9 e 10 de Setembro

Elvas

 

É com muita alegria que a rede Reflorestar Portugal convida a todos para participarem do momento de construção colectiva do projecto e das suas ramificações que irá acontecer no Encontro pelas Florestas, em Elvas, a 9 e 10 de Setembro de 2017.

 
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III Encontro Ser Educação

8 a 10 Setembro

Soajo

 

A intenção do III Encontro Ser EducAção é ENRAIZAR. É através da raiz que a planta se consegue fixar ao solo e ir buscar todos os nutrientes que necessita para se desenvolver, para concretizar o seu propósito. Quando tem uma raiz forte, a planta cria resiliência, uma base forte para sobreviver a qualquer desafio que tenha. Este ano queremos nutrir a semente de cada um para que todo o seu potencial possa desabrochar.

 

 
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Alma Enraízada - plantas medicinais que nos ensinam a curar

16 de Setembro das 10h00 às 18h30

Fabryka das Artes, Porto

 

Esta actividade vai ser a última deste ano, já que nos vamos ausentar um pouco destas andanças.

Vai ser um momento de crescimento e celebração, em que de mãos dadas às plantas vamos perceber o que é ter tempo para ser verde, mesmo que com duas pernas. Vamos andar em labirintos, escrever, desenhar, cantar e recriar de forma humana o que é fazer parte desta profusão de vida.

 

O local da actividade é o projecto de vida de uma família que acredita que o mundo pode ser melhor se todos vivermos daquilo que nos engrandece por nos fazer tremelicar de felicidade,

 

Juntem-se a nós!

 
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