"Nós somos o suor que o Estio asperge e sua, Nós somos, em Janeiro, a agoa-benta da Lua!” António Nobre |
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Como sempre cada newsletter parte de uma vontade de estudarmos, percebermos mais a fundo a nossa ligação com a Terra e claro partilhar com vocês aquilo que nos preenche no momento. Cada época do ano se mostra diferente e com elas os nossos interesses vão se modificando, nestes dias quentes parece que o tempo dentro da sombra nos leva mais adentro das origens. Antes de Marco António nomear este mês em honra do imperador Júlio César já este mês era visto como o quinto, aquele que embarca o calor mais tórrido, contudo, são poucas as línguas que preservam a identidade camponesa deste mês que acaba por nos dizer mais que o Julho do Júlio. Ao tentarmos perceber o que significava esta altura do ano para os tantos que viveram antes da latinização fomos explorando as línguas mais antigas, que perservam ainda origens distintas das romanizadas. Uztailean é o nome que em euskera que intitula Julho e vem da raíz de uzta que quer dizer colheita e que define a acção de quem vive do que semeia e por isso vive com os ritmos da Terra. Heinäkuu é em finlandês a palavra que descreve o mês do feno ou o mês do ceifar e mais uma vez nos remete para a fartura que este mês traz consigo. Mas o Estío em que agora estamos e que começou com o Solstício vem também de fontes sábias que nos ligam a uma multitude de cultura que nos pertence enquanto humanos. Vem do grego estía ou εστία que quer dizer lareira, o lugar onde se faz fogo em casa, onde cozinhamos mas onde nos dedicamos também às nossas preces. Era esta lareira que já no Paleolítico fazia das cavernas iluminadas o lar de quem as ocupasse pois eram locais de aconchego, onde havia um sentido de segurança e de convívio. Também nas medicinas tradicionais este Fogo está ligado ao coração, à garra e ao espírito. É o lugar luminoso onde reside a alegria e que quando em equilíbrio se manifesta dentro de nós como amor, riso e entusiasmo. Este calor imenso que sentimos no exterior poderá exacerbar o nosso Fogo interior e nos levar à exaustão, ansiedade e até à histeria... Tudo leva o seu tempo a ser interiorizado e quando a dose é extrema e de uma vez só normalmente o desequilibrio tende a ser evidente. Não é por mera casualidade que durante grande parte deste mês ainda estaremos alinhados com o lado feminino e mais refrescante da constelação de Caranguejo, que está ligada à Lua e ao elemento Água... Até as estrelas nos ditam um tempo para a assimilação da maturidade! É esse o mesmo sentimento que nos apodera quando retratamos plantas por palavras, desenhos, música ou por fotografia como a da Daucus carota em cima. Existem várias tentativas de capturar a troca real que acontece entre nós e o mundo que experenciamos, porque não estamos só a tocar-lhe, nesse momento ele também nos toca, existem sempre os dois lados: não só o dar mas também o receber. Esta cenoura brava faz-nos lembrar o movimento de abertura e recepção que as deusasHestia ou Vesta - que nomeiam esta altura do ano - representavam nas culturas em que eram veneradas. Nos templos que lhes eram dedicados o fogo era mantido durante todo o ano, não numa combustão vivaz que queima tudo de uma vez só mas de forma paciente e constante, que a cada dia pede um bocadinho da nossa atenção. Quem se desleixasse no cuidar desse fogo demonstraria o quão distraído estava na sua evolução pessoal, porque este fogo que lhes era dedicado era a materialização da inspiração que nos mantem de pé, que alenta os nossos desejos e a alegria que sentimos quando realizamos um objetivo ou quando fazemos dos nossos sonhos realidade. Por essa razão existem deusas e deuses que povoam o nosso imaginário, cada um associado a alturas do ano específicas, tal como plantas espontâneas que decidem quando emergir ou florir. O ensinamento é o mesmo, o tempo que nos pedem para os ouvir é igual, aprendemos com eles a observar, a deixar o calor entrar aos pouquinhos na nossa morada: neste templo que nos é familiar. "Casa sem fogo, corpo sem alma" Ditado Popular |
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Plantas que se fazem Ouvir Há plantas que nos desafiam logo desde a primeira troca de olhares, outras que nos vão chamando de vez em quando e que se dão a conhecer bem devagarinho. Existem aquelas, que tal qual um bom amigo, nos pedem para passarmos uma temporada com elas, outras parece-nos difícil chegar perto e quase que baixamos a cabeça quando as cruzamos. A planta que este mês nos quer falar, não quer conversa com qualquer um, durante alguns anos as palavras que trocavamos eram poucas apesar dos nossos esforços para a proteger e propagar sempre que a ocasião pedia, nos entretantos acabou por nos pedir para ter voz humana... |
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Verbena offinicinalis - a Verbena Vemo-la de forma discreta maior parte do ano: na sua forma decumbente ou rasteira com folhagem verde escura e é bastante fácil passarmos despercebidos por ela. Anda por solos arenosos ou de drenagem fácil e pode aparecer tanto nas orlas dos bosques como nas orlas costeiras mostrando uma capacidade de adaptação muito versátil e persistente. Entre Julho e Setembro ergue-se com numa verticalidade estonteante e espalha as suas graças através das flores violácea que se vão abrindo na sua espiga erecta que se elevam do seu caule quadrangular. O sabor da Verbena é dos mais amargos que conhecemos, semelhante ao amargo do Absinto - Artemisia abstinthium, ao do Marroio - Marrobium vulgare ou ao dos Cardos e Alcachofras - Cynara spp. , se já experimentaram algum dos exemplos com certeza se lembram do sabor que nos fica gravado nos sentidos. Os compostos amargos nas plantas estão frequentemente ligados aos metabolitos secundários, os que contêm as propriedades medicinais mais acentuadas nas plantas, e que ao contrário dos metabolitos primários nao afectam a sua sobrevivência mas ditam a sua resistência a agressões externas e possivelmente contribuem para a sua virilidade genética. Alguns exemplos destes metabolitos de sabor amargo são os alcaloides que afectam o sistema nervoso, os glicosídeos que têm uma conexão com o sistema circulatório e os flavonóides que são geralmente referidos pelos seus antioxidantes e acções anti-inflamatórias. |
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Não merece o doce quem não experimentou o amargo. É este amargo que se encontra na Verbena que nos liga às suas propriedades tão sagradas e benditas por toda a história da etnobotânica que chegou até nós através de histórias feitas sons, palavras escritas e acima de tudo pela planta em si. A Medicina Tradicional Chinesa liga o sistema do Coração a este sabor amargo e corresponde em grande parte ao sistema circulatório e ao sistema nervoso. Nesta Estação de calor fogoso este sabor traz o relaxamento e arrefece aqueles que sentem que têm muito que concretizar e pouco tempo para o fazer. O entusiasmo é geral, os ideais estão bem lá no alto, os movimentos são apressados, o discurso e as acções percipitam-se, enfim, este é o Fogo que se espalha de forma impulsiva e que precisa da sabedoria da Verbena para voltar à coerência. |
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Com as suas propriedades nervinas a Verbena é uma disciplinadora do sistema nervoso hiperactivo, como em casos de stress mental e na pacificação dos "tenho que", enxaquecas ou dores de cabeça derivadas de um nervosismo excessivo e no caso de insónias sucessivas. Também é excelente em casos específicos de regenaração de um sistema nervoso debilitado como em casos de melancolia, exaustão, depressão ou até mesmo parelesia. Estudos feitos com soluções aquosas de Verbena a baixa concentração mostraram efeitos neuroprotectores que corroboram o uso tradicional desta planta, neste momento está a ser estudada a possibilidade de se tornar um agente contra a perda neuronal em doenças como o Alzheimer. Quando a Estrela do Cão se Levanta Os druídas recolhiam esta planta quando esta começava a florir no tempo a que chamamos de Dias do Cão ou Canicular, o período entre Julho e Agosto em que a estrela Sirius (da constelação de Cão Maior) se levanta no horizonte em quase conjunção com o Sol. A ligação é evidente, entre a luz mais forte do dia e a estrela mais brilhante da noite, o equilibrio era sempre o princípio de qualquer poção medicinal e com certeza não haveria relação mais propícia. Com a Verbena colhida neste dia preparava-se a água lustral, que de forma semelhante à agua benta, era deixada em vasos de barro colocados à entrada dos templos para as pessoas entrassem em contacto com os poderes das plantas através da sua pele. A água lustral já era utilizada pelos hebreus, os etruscos, os egipcios, os gregos, e nestes casos não era normalmente consagrada por um membro do clero como acontece hoje em dia na Igreja, mas sim pelas plantas que ao serem submersas nestas águas infundiam as suas virtudes nela. Uma bebida mágica era também preparada com Verbena e os celtas davam-lhe o nome de Caldeirão de Cerridwen, uma deusa que ainda hoje permanece na cultura irlandesa e no país de gales. Era vista como uma mulher que adoptava todas as formas, ela era donzela, mãe e anciã e esta bebida que preparava trazia a quem a bebia a sabedoria da energia criativa, a inspiração da música e da profecia. Teria que ferver em lume brando durante um ano e um dia, tal como nos templos de Hestia ou Vesta, que pediam a disciplina de quem se dedicava. É incrivel como as nossas histórias se entrelaçam umas nas outras como se fossem a mesma... |
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Esta inspiração que as deusas recebiam da Verbena é ainda uma das características porque ela é usada especialmente por mulheres. Durante a tensão pré-menstrual muitas mulheres têm tendência para serem mais críticas e a projectar os seus problemas nos outros, este conflicto interno poderá levar à insatisfação que nos leva muitas vezes a comer de forma compulsiva nesta altura do mês. A Verbena vem sossegar esta batalha com a sua leve acção progesterogénica que acaba por relaxar o sistema nervoso e liberar bloqueios a nível do sistema endócrino. |
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Por esta razão é também usada por mulheres em pré ou plena menopausa para acalmar os sintomas que estão associados a esta época da vida cheia de sabedoria e harmonia, se for aceite e acompanhada da melhor forma. Apesar de não dever ser ingerida por mulheres grávidas por funcionar como estimulante uterino, a Verbena é usada por parteiras naturais para induzir o trabalho de parto e estimular contracções. Também é usada depois do parto no caso de possíveis vestígios de desânimo e se o leite materno começar a secar, já que é um excelente galactagogo que estimula a secreção de leite. Quando colherem esta planta, aliás como com todas as plantas, tomem o tempo necessário, tenham bem claras as vossas intenções e não se esqueçam de antes de tudo o resto de agradecer a sua presença e a sua capacidade de curar. Levem no máximo dos máximos um terço da comunidade de plantas que encontrarem porque haverá sempre alguém que precisará mais que nós e a planta em si precisa do vigor comum para se continuar a propagar Que o Fogo deste Verão mantenha a poção a borbulhar no vosso caldeirão! |
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8º Mercado das Artes Ponte de Lima 7,8 e 9 Julho A Comunidade Artística Limiana (CAL) como entidade dinamizadora de atividades de cariz artístico e cultural está a promover uma programação que vai das artes visuais às artes performativas, desde as artes plásticas à música, da literatura ao teatro, e à grande maioria das formas de expressão artística, com especial enfoque em artistas locais e emergentes. | | |
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Geomância: as Histórias que a Terra conta 15 de Julho das 15h00 às 20h00 Mosteiro S. João de Arga A geomância é a adivinhação através do estudo e interpretação do mundo natural. O conhecimento inato que vem da experiência que temos com os Elementos guia-nos até diferentes métodos de forma a encontrarmos respostas na Terra. Num local cheio de energia de tempos antigos vamos perceber como cada um consegue de forma intuitiva ser um veículo que conta histórias através das perguntas que são feitas. | | |
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