Este mês chegamos tarde mas temos a desculpa de estarmos numa altura de rebuliço que até põe os Santos a dançar... É uma altura de celebração que nos dá todas as razões e mais algumas de aproveitar os dias longos de Sol que tudo vai amadurecendo. Andamos a aprender a escrever quando as palavras veem e por isso aqui estamos nós: tarde e a boas horas!
Estamos numa época de movimento intenso, nós animais, as plantas e até as pedras sabemos que o Sol nos energiza e por isso as razões para parar parecem ser poucas. Com tanta luz solar a seratonina inunda-nos o corpo e faz-nos sentir hiper motivados. Esta energia masculina de concretização toma conta de nós mas há sempre aquele momento em que tudo pára. Este mês o nosso olhar fica preso nas grandes flores efémeras da onagra, que tal qual balão de papel elevado pelo ar quente, parece que leva os nossos desejos mais longe, para um lugar que ainda não conhecemos mas que confiamos ser o certo.
O espaço solene do esperar que o balão, segurado pelas muitas mãos, se encha, ganhe volume e levante devagarinho continua a ensinar o que é na essência o Solstício de Verão.
Mesmo sem o risco dos balões podemos alcançar este sentimento, a pausa e a intenção ajuda os momentos a ficarem imersos na fibra de que somos feitos e por isso são chamados de celebração...
E é já hoje, neste dia mais longo do ano, que a presença do Sol é bem sentida e vai bem mais além da imagem fálica dos alhos-porros ou dos sóis feitos de papel, das pequenas lanternas luminosas ou das inúmeras brasas que são tão comuns nos Santos populares. Apesar de ser chamado de António, João e Pedro não há nada que nos distraia da vontade de prolongar o Sol, a intensidade masculina tão necessária à realização.
A presença do Sol neste dia mais longo do ano é tão forte que até a nossa própria sombra faz desaparecer mas, ela existe e terá de ser confrontada, por isso há que transportar este calor para bem dentro de nós, já que essa grande fonte de calor e inspiração vai começar a sua dança descendente e os dias a partir do Solstício de Verão começarão a encurtar.
É quase como a martelada na noite de São João, um acordar para reavaliarmos a nossa situação nesta altura de amadurecimento: Quais são os meus dons? Como me relaciono com os outros? O que posso doar de mim à comunidade a que pertenço? São perguntas como estas que naturalmente surgem nesta altura do ano e às quais devemos dedicar um espaço no meio do turbilhão de actividade de Verão.
É a altura do ano em que temos sonhos mais lúcidos e que podemos aceder à nossa intuição de uma forma mais desenvolta, basta adormecermos com as perguntas e prestarmos alguns minutos do acordar a tentarmos recordar os sonhos que possamos ter tido nessa noite...
E claro, não há São João sem os belos manjericos - Ocimum minimum - que são um tipo de manjericão ou basílico de folhas mais pequenas e que são plantas bastantes sensíveis daí andarem ligadas à poesia. O seu óleo é usado em aromaterapia e não é por coincidência que tem um efeito semelhante ao da exposição solar em nós humanos pois é um tónico nervoso com efeito anti-depressivo que nos ajuda a clarificar e fortalecer a mente. O Manjerico abre caminho para que as respostas às nossas perguntas se tornem visíveis, porque maior parte das vezes elas estão mesmo a sobrevoar a nossa cabeça, bem lá no alto!
"Quando as pessoas olham para as nuvens, elas não veem a sua forma real, que não tem forma alguma ou tem todas as formas, porque elas mudam constantemente.
Elas veem aquilo que o seu coração anseia."
José Eduardo Agualusa